“A honestidade crua de uma imagem do inconsciente pode nos deixar mudos com lágrimas ou risadas, muitas vezes com os dois, porque a imagem se move naquela linha tênue do absurdo entre a tragédia e a comédia” (Marion Woodman).
Falar de sonhos é uma forma de refletir sobre nós mesmos.
Mesmo quando não interpretados, os sonhos têm um efeito salutar, embora fraco e transitório. Se a mensagem não é assimilada pelo consciente, ela volta para o inconsciente, reaparecendo em sonhos subseqüentes até que o sonhador a ouça.
Sonhos repetitivos e pesadelos são como “gritos” do inconsciente… algo dentro de nós que está querendo falar, mas que não está sendo ouvido.
Um sonho de perseguição geralmente significa que algo (representado pelo perseguidor) quer chegar à consciência do sonhador. Se sonharmos, por exemplo, que um touro bravo nos persegue, isto significa que ele quer chegar até nós. O trabalho psicoterapêutico com esse sonho seria explorar com o paciente o que este touro bravo pode estar representando em sua vida: “o que quer entrar em sua vida e que você, com medo, está tentando impedir?” Pode ser aspectos indesejados do paciente, um lado agressivo que ele tem, mas que não gostaria de ter e por isso nega existir dentro dele. Ou um desejo sexual intenso que, por não o entender direito, tentamos controlá-lo, reprimido-o.
Nós tememos o touro ou, na verdade, o que ele representa, por ser algo estranho, desconhecido. Geralmente tememos o novo, gostaríamos muitas vezes de deixá-lo afastado de nós, queremos fugir do touro bravo. E, quanto mais o afastamos, mais aparecerá o impulso dessa parte abandonada de se unir conosco e, desta forma, o “touro” se torna forte e perigoso.
A atitude mais adequada seria convidá-lo: “Por favor, venha e me devore”. A elaboração de um tal sonho durante a psicoterapia tem o sentido de auxiliar o individuo a olhar e aceitar tais conteúdos como seus (agressividade, sexualidade etc.), e não resistir quando um elemento desses se aproximar. Este “outro em nós” (o desconhecido em nós) é um touro bravo porque nós estávamos fazendo isso “dele”, e se nós o aceitarmos, aparecerá como algo um pouco diferente, com outras possibilidades.
Ao integrar sua agressividade o individuo pode, por exemplo, direcioná-la para algo construtivo, como uma energia para conquista de algo maior e significativo ao indivíduo: uma força necessária para uma mudança radical na vida profissional, uma energia para a construção de um relacionamento que até então era visto como aterrorizante etc.
Enfim, compreender os sonhos permite à pessoa enriquecer sua mente consciente, diminuindo sua unilateralidade ou eventual oposição entre consciente e inconsciente. Mesmo que o material acrescentado seja desagradável, e muitas vezes o é, ele conduz a um mais profundo autoconhecimento e a uma maior estabilidade mental.
“Em cada um de nós existe um outro a quem não conhecemos. Ele fala conosco nos sonhos e nos conta quão diferentemente ele nos vê em relação à forma como nós nos vemos. Quando, portanto, nos encontramos numa situação difícil, para o qual não há solução, ele pode algumas vezes acender uma luz que altera radicalmente nossa atitude – a mesma atitude que nos levou à situação difícil” (Jung – “Sobre a natureza dos Sonhos”).