A CRISE DO ALUNO UNIVERSITÁRIO COM SEU CURSO DE GRADUAÇÃO
(Texto desenvolvido tendo como base algumas das reflexões e pesquisas do grupo de orientação profissional do Labor – USP).
Os processos de trabalho e de produção sofreram grandes mudanças a partir da terceira Revolução Industrial ou Revolução Tecnológica (meados do século XX) e da crise econômica dos anos 1980 e 1990: as estruturas organizacionais e os postos de trabalho ficam mais enxutos, há mais agilidade nos processos, as relações de trabalho tornam-se mais eficazes para atender a demanda de um mundo mais rápido; valoriza-se cada vez mais o desempenho eficiente, a superação, a competitividade e o sucesso.
O tempo acelerado e o mundo repleto de contradições, marcas do mundo atual, alteram o comportamento, o vínculo e as concepções de mundo das pessoas: o modo de experienciarmos dor e sofrimento, prazer e satisfação, foi alterado, e ainda não sabemos como lidar com essa nova forma de ser e vivenciar a vida. Tudo é muito novo, tudo muda muito rápido, tudo pode ser e não ser ao mesmo tempo. Ganhamos algumas coisas preciosas, perdemos outras. As polaridades pipocam, como é o caso da solidão, hiperconexão num mundo marcado pela internet, que aproxima e afasta ao mesmo tempo.
Estudos psicológicos apontam que a alta velocidade com que os fatos acontecem dificultam para o sujeito a reparação de danos e, também, a elaboração de sentimentos decorrentes dessas vivencias psíquicas (Kehl). E as contradições, junto com as múltiplas possibilidades, gera incertezas, ansiedade e confusão mental, dificultando, entre outras coisas, às crianças e jovens desenvolverem sua identidade pessoal e profissional, e gerando grandes problemas de identidade na vida adulta.
A maioria dos alunos universitários são jovens ou jovens adultos, e o jovem contemporâneo é, em sua grande maioria e por motivos de ordem sócio-econômico-culturais, impulsivos e com pouca mediação do pensamento (metacognição). Estratégias de pura tentativa-e-erro, sem tempo para reflexão, própria de uma atitude infantil (fase do desenvolvimento humano em que o córtex ainda está se formando), são cada vez mais comuns na nossa sociedade, entre jovens e adultos.
A vida mais restrita espacialmente, em quartos, casas, computadores e celulares, promove, segundo Joel Birmam (psiquiatra e psicoterapeuta) e em meio a críticas dos jovens, uma geração de “engaiolados”. Esse “engaiolamento” estaria contribuindo para postergar o amadurecimento e impedindo que os jovens aprendam a dar conta de seus próprios desafios.
Assim sendo, o mundo contemporâneo “criou” e agora conta com jovens que tomam atitudes sem parar para pensar, têm uma tendência a não sustentar uma situação difícil, não conseguindo esperar e dar tempo para se adaptarem e elaborarem situações conflituosas e têm extrema dificuldade em tolerar frustrações.
Essas palavras e concepções podem ser deveras ofensivas aos jovens, mas muitos estudos apontam para essa realidade que envolvem não só os jovens, mas também adultos e até idosos. Mas é na geração dos jovens que podemos constatar de forma mais clara estas características. Lembrando também, e sem dúvida alguma, que o mundo contemporâneo e as novas gerações trazem também consigo grande potencial de mudança, mudanças significativas, positivas, social, tecnológica, emocional e espiritualmente.
A questão é que, cada vez mais, deparo-me, no consultório ou nos meios sociais em que circulo, com jovens e familiares em grande sofrimento frente a “romaria de tentativa-e-erro” do aluno com relação ao seu curso universitário – entrando, frustrando-se, angustiando-se, saindo, entrando, frustrando-se, angustiando-se, saindo… numa multievasão e num recomeço de cursos sem fim!
O mundo e o perfil do jovem contemporâneo, descrito nos primeiros parágrafos desse artigo, contribui para o número elevado de evasão nos cursos universitários. É importante olhar a fundo essa questão. É importante que todos nós, alunos, professores, pais, cientistas e pesquisadores sociais e instituições universitárias estejamos atentos às questões relacionadas a essa realidade (evasão). A pouca reflexão, a pouca exploração da profissão antes da escolha, as dificuldades de adaptação, o postergar da formatura e do ingresso no mercado são situações com que o orientador vocacional/profissional se depara frequentemente quando trabalha com reescolha de curso de graduação (situação em que o jovem, insatisfeito com seu curso, busca auxilio para escolher um novo).
Destaca-se que a forma como a escolha profissional foi feita exerce grande influência, posteriormente, sobre a dúvida de prosseguir ou não no curso, mesmo quando é acompanhada de outros fatores (leia a parte II – descontentamento com o curso e os motivos de evasão). Por isso uma orientação vocacional/profissional no momento de escolha de um curso universitário é tão importante e valiosa. Aconselha-se que esse processo tenha início no começo do último ano letivo do ensino médio, período adequado e suficiente para que o jovem possa investigar, analisar e elaborar sua escolha (ou confirmá-la caso o jovem já traga um curso escolhido a priori). Nos casos de uma orientação em momento de reescolha, entender como foi realizada a escolha, ou escolhas, anteriores é essencial.
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