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Yara Kilsztajn

Psicóloga Junguiana, especialista em Psicoterapia Corporal e Orientação Vocacional/Profissional.

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Parte II – Descontentamento Com o Curso e os Motivos de Evasão

A CRISE DO ALUNO UNIVERSITÁRIO COM SEU CURSO DE GRADUAÇÃO

(Texto desenvolvido tendo como base algumas das reflexões e pesquisas do grupo de orientação profissional do Labor – USP).

O mundo contemporâneo, caracterizado por suas grandes contradições e pelo tempo acelerado, vem dificultando aos indivíduos a reparação de danos e a elaboração de sentimentos decorrentes de suas vivencias psíquicas nesse mundo cada vez mais contraditório e acelerado.

É nesse contexto que se constata, hoje em dia, uma elevada evasão de alunos, em sua maioria jovens ou jovens adultos, nos cursos universitários; vários deles com mais de uma evasão no currículo (multievasão).

E por que nossos jovens entram nos cursos universitários e, cada vez mais, desistem destes? Quais os motivos da evasão? Estudos apontam diversos fatores, como fatores sociais, pedagógicos, institucionais, psicológicos e fatores ligados a escolha profissional; podendo haver, frequentemente, a  presença de mais de um fator como causa de desistência.

Aqui apresento e comento alguns dos motivos relacionados a evasão universitária:

O processo de escolha inicial que, no sistema educacional brasileiro, ocorre num momento muito precoce da vida do jovem (17-18 anos), geralmente de forma pouco refletida e pouco apoiada e trabalhada pelas escolas de ensino fundamental e médio. Em vários outros países, como no Canada e nos EUA, a escolha profissional ocorre num momento mais tardio e as escolas, desde cedo, buscam preparar melhor os alunos para essa escolha. Ao não ter maturidade e nem orientação adequada, o jovem muitas vezes não tem condições de fazer uma escolha assertiva. Nesses casos, realizar um processo de orientação vocacional/profissional com um profissional especializado pode ser fundamental para ajudar o jovem (e o adulto) a escolher o curso universitário que melhor atenda seus desejos e necessidades, podendo evitar uma posterior evasão.

A decepção com o curso em si, que envolvem desde a estrutura da universidade, os professores, os colegas de turma, a forma de ensino etc. Nesse caso, muitas vezes, o motivo não é o descontentamento com a graduação escolhida, mas com a instituição de ensino, a universidade. Nesses casos, mudar de universidade, e não de curso, pode ser uma solução. Entender o real motivo do descontentamento com o curso é essencial para o aluno decidir qual caminho tomar.

A dificuldade do aluno em acompanhar o curso: ao se deparar com sua dificuldade muitas vezes ele confunde o fracasso acadêmico com o gostar ou não do curso/da profissão. Geralmente os indivíduos nessa situação não percebem claramente e conscientemente essa confusão. Um profissional capacitado pode ajudá-lo a discriminar o que é dificuldade em acompanhar as exigências do curso e o que é não gostar dessa carreira. Caso seja a primeira opção, o ideal seria, por exemplo, buscar um auxílio em aulas particulares, alterar a forma de estudo ou buscar uma universidade na qual o ensino esteja mais alinhado com a forma do aluno aprender.

A profissionalização. Aqui as queixas surgem quando o aluno começa a estagiar ou a ter contato com as matérias práticas do seu curso. Muitos “vão levando” as matérias teóricas e apenas entram em crise quando se deparam com a prática.

Motivos pessoais e emocionais podem interferir. São casos em que a psicoterapia ajuda bastante. Acontecimentos traumáticos ou muito difíceis de lidar, como mortes, doenças, depressão e até desilusões amorosas podem levar o aluno a confundir esse seu mal-estar emocional com o não estar gostando do curso. E as dificuldades pessoais e emocionais podem ser tamanha que impossibilite emocionalmente o indivíduo de estudar e, mesmo ele sabendo gostar do curso, sem um apoio psicológico, pode se sentir incapaz de finalizá-lo, desistindo do curso ou boicotando-se sem perceber.

Adaptação à vida universitária, como exemplo, a exigência de uma maior autonomia, do que aquela que lhe era exigida no ensino médio. É comum jovens que tiveram que mudar sua rotina, passando a estudar o dia todo (cursos integrais), ou tendo que mudar de cidade (morar sozinho, longe de amigos e familiares), terem dificuldade com essas mudanças e confundirem-nas com um descontentamento com o curso. Nesses casos, o problema não é o curso em si, mas os aspectos ligados indiretamente a eles. Discriminar o descontentamento e esperar com paciência esse processo de adaptação, que é natural e que dura por volta de um semestre a um ano, pode evitar uma evasão desnecessária.

O final dos anos de estudante: com a entrada “definitiva” para a vida adulta, independente e autossustentável; com o medo de não conseguir um emprego ou não conseguir ser um profissional de sucesso. Esses fatores levam muitos jovens a questionarem o curso e a profissão. Aqui a evasão aparece como um mecanismo de defesa em que o jovem “foge” da formatura, buscando permanecer um eterno estudante.

Questões financeiras: em que os jovens ou seus responsáveis não têm mais condições de continuar pagando o curso ou esse pagamento é tão dificultoso que leva o estudante (ou responsável) a se questionar se vale a pena tanto esforço e qual as reais vantagens que teria em se formar.

Identificar, junto ao aluno, os motivos que o levam a pensar em desistir de um curso é fundamental, evitando uma evasão, muitas vezes desnecessária e, caso proceda, facilitando uma reescolha (a escolha de um novo curso) consciente e bem-sucedida.

Apenas como observação, podemos dizer o mesmo com relação ao profissional que pretende “abandonar” sua profissão ou cargo, ou ao aluno que pretende abandonar um estágio.

A pergunta inicial é: por que quero sair desse curso/estagio/trabalho? Qual o real motivo (muitas vezes inconsciente)? É importante nos perguntarmos e não nos satisfazermos com nossa primeira resposta. É importante refletirmos a respeito para, então, tomarmos a decisão de sair ou não de um curso, de uma universidade. São muitos os motivos e as variáveis que interferem no nosso suposto estar ou não gostando de um curso: é preciso conhecê-las bem! Caso fique claro que o melhor caminho é sair do curso, essas reflexões são ferramentas importantes e facilitadores para orientar o aluno a encontrar um novo curso, uma nova profissão, que satisfaça e que melhor atenda as suas demandas, desejos e possibilidades. A orientação vocacional/profissional e a psicoterapia auxiliam o indivíduo nesse momento de crise e de dúvida, nesse processo de escolha e reescolha profissional.

>> Continue a Leitura: Parte III – A Reescolha, Orientação Vocacional/Profissional no Momento de Crise

>>Para mais detalhes sobre orientação vocacional e profissional acesse: orientação vocacional/profissional.

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