TRILOGIA – O CURADOR INTERNO E O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO PARTE II: ENFRENTANDO O NOSSO BICHO PAPÃO

A importância de encarar nossas dores e traumas para viver um presente saudável

“Crucial para o sucesso da análise é a afirmação da dor como a voz do si mesmo autentico. O sofrimento em analise não tem nada a ver com masoquismo. O prazer que deriva da dor é o reconhecimento de que existe uma voz autentica dentro de si, como o choro de uma criança que por acidente caiu em um poço. Todos os aldeões correm contra o relógio para salvá-la, encorajados e energizados pelo som do seu choro que ainda pode ser ouvido. Se conseguirem alcança-lo antes que o choro pare, eles sabem que ela pode ser salva. Seu choro é o guia e a esperança deles (…) Saber que o resgate é possível torna o choro ainda mais intenso. É menos um choro de medo do que um choro de esperança. Ele declara: ‘estou aqui, estou vivo’” (Marion Woodman).

Para nos curarmos é importante olharmos para nossa história, pessoal e familiar. Mas, às vezes, temos tanto medo de olhá-la que acabamos por ignorá-la ou fechá-la dentro de um baú, com sete chaves. Isso acontece porque nossa história nem sempre foi e é “bonitinha”, geralmente todos nós passamos por momentos difíceis. Momentos que foram vividos, anos ou minutos atrás, com muita dor, desespero, angustia e/ou impotência. Com medo de reviver esses sentimentos e não suportarmos acabamos por nos afastar da nossa história.

Mas, ao nos afastarmos da nossa história, nos afastamos também de nós mesmos, das partes positivas dela e da possibilidade de ressignificar e elaborar as partes conflituosas que tanto tememos.

Momentos traumáticos, grandes ou pequenos, aparentemente sem significado podem estar interferindo e atrapalhando o desenrolar da nossa vida. Querendo ou não, conscientes disso ou não, algo mal resolvido na nossa história pode interferir muito na nossa forma de viver o presente. A rejeição vivida na infância no ambiente escolar, o abandono de um amor adolescente, a forma que falaram do nosso pai que nunca conhecemos, um acidente trágico quando ainda éramos bebes, a forma como um avô recebeu a gravidez de seus pais, a falência da empresa familiar, a forma como seus pais lidaram com o suicídio de um parente próximo, segredos de família etc. podem estar afetando, mesmo sem você perceber, suas decisões e a forma que você vive, hoje, suas relações pessoais, profissionais e sociais.

Com um apoio adequado, num ambiente protegido e sem julgamentos, próprio do espaço psicoterapêutico, podemos revisitar nossa história, encontrar nossas feridas e dores e curá-las através da aceitação e do acolhimento das nossas emoções. Reelabora-se o evento traumático vivido, encontra-se novos potenciais e/ou forças muitas vezes esquecidas e, assim, caminhamos para transformar aquilo que não estava nos fazendo bem.

Redimensionando o tamanho do nosso bicho papão e o nosso tamanho

Ao revisitarmos nosso passado, não raras vezes, descobrimos sermos mais fortes e capazes do que imaginávamos ser. Muitas vezes descobrimos que o bicho papão que nos assombra é bem menor e mais manso do que imaginávamos que era. Olhar para debaixo da cama, para dentro do armário ou atrás da cortina nos possibilita lidar com nossa sombra, nosso medo… nos possibilita olhar nosso bicho papão e nos libertarmos dele.

É comum jovens e adultos, ao visitar uma casa conhecida na infância, se surpreenderem com o tamanho da mureta, da sala ou do quintal: eles são bem menores do que a imagem registrada em suas mentes. Sabemos, claro, que não foi o quintal que diminuiu, foi a criança que cresceu e que agora vê tudo de uma outra perspectiva. O mesmo, na maioria das vezes, acontece quando revisitamos uma dor vivida na infância: descobrimos que ela, agora que crescemos, é proporcionalmente bem menor (mesmo que ainda grande) do que antes, pois, mais maduros, somos mais capazes de lidar com ela. Com o passar dos anos desenvolvemos habilidades físicas, emocionais, cognitivas e psíquicas para lidar com diversas situações e emoções, nos tornando também mais capazes de enfrentar e ressignificar experiencias e dores antigas.

Por exemplo, aos cinco anos enfrentar um adulto, um abusador sexual ou um pai extremamente crítico e severo, é física e psicologicamente muito mais difícil que o fazer aos 35 anos. Mas, muitas vezes, diante dessa situação aos 35 anos ficamos tomados pela experiencia anterior. Ficamos petrificados, sentindo-nos indefesos e impotentes, sem perceber que agora, adultos, temos muito mais recursos internos para lidar com a situação. Vale lembrar que essa experiencia com um abusador sexual ou com um pai extremamente crítico e severo vividos na infância podem, na vida adulta, serem projetados num parceiro amoroso ou no chefe do trabalho, trazendo grandes danos na forma de nos relacionarmos com eles. Ao encararmos e elaborarmos nossas experiencias traumáticas anteriores, nos libertamos delas e, assim, lidamos melhor com as experiencias, negativas e positivas, presentes e futuras que encontramos pela vida.

E há diversos outros exemplos, muitos em que o bicho papão é nós mesmos, são sentimentos ou ações nossas que julgamos e que escondemos por não conseguimos aceitar, por não conseguirmos ver nosso “lado feio”. Situações de luto, perdas, sensações de culpa etc… nossa história é repleta de experiencias difíceis de serem vividas e, quando se tornam nós, clamam, de alguma forma, para que olhemos para elas, a fim de desfazermos esses nós, para que a vida volte a fluir livremente. E esse “clamor” pode vir através de sintomas físicos (uma coluna que trava, gastrite, asma), comportamentais (ataques de raiva), emocionais (depressão) ou relacionais (desencontros amorosos) – é preciso ouvir esse clamor!!

* Esse texto faz parte de uma trilogia:

– Parte I: O que é saúde, doença e cura?

– Parte II: Enfrentando o nosso bicho papão

– Parte III: Aprendendo a sentir, a mover e a relacionar-se

* Sugestão de filmes sobre o assunto:

– “Sete Minutos Depois Da Meia Noite” (Netflix)

– “Divertidamente”

TRILOGIA – O CURADOR INTERNO E O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO PARTE I: O QUE É SAÚDE, DOENÇA E CURA?

Como o psicólogo auxilia o indivíduo a ter uma vida saudável?

Primeiro é importante deixar claro que o psicólogo não cura, ele auxilia o indivíduo a acessar o seu curador interno. E isso acontece através do autoconhecimento.

“O doente procura um médico ou doutor externo, mas o fator intrapsíquico, ou ‘fator curador’, ou ainda o ‘médico interior’ é também mobilizado. Mesmo o médico externo sendo muito competente, as feridas e doenças não poderão ser curadas se não houver a ação do ‘médico interior’” (Groesbeck).

O que é saúde, doença e cura?

Apresento aqui minha visão como psicoterapeuta, ancorada na psicologia analítica de Jung e na saúde integrativa.

Entendendo o indivíduo como um todo que inclui corpo, mente, psique e alma/espirito; e saúde como a capacidade do indivíduo de se auto cuidar; pode-se inferir que autoconhecimento, auto responsabilidade, qualidade de vida, resiliência e conexão com o espiritual são pontos importantes para promoção da saúde integral do indivíduo. Ressalta-se que “espiritual/espiritualidade” é entendida aqui como aquilo que fala do significado e do proposito de vida para cada um, algo individual que pode ou não incluir a crença de um deus/deuses. Pode ser o trabalho, a família, conhecer novas culturas, pintar, seguir os valores e ensinamentos de sua religião etc. Quando a vida tem um proposito, um sentido, o indivíduo busca cuidar de si.

Para Jung, o indivíduo saudável é aquele que está em busca do desenvolvimento, do realizar-se, integrando-se ao todo, transmutando e transcendendo. Quando não há movimento, quando a energia não flui, temos um indivíduo doente. E é fundamental que o indivíduo se engaje no seu próprio processo de cura, por isso o curador (psicoterapeuta) deve auxiliar o paciente a encontrar seu “curador interno”.

Ainda segundo Jung, “todos os maiores e mais importantes problemas da vida são de certa forma insolúveis. Eles precisam sê-lo, por expressarem a necessária polaridade inerente em todo o sistema autorregulador. Eles nunca podem ser resolvidos, apenas superados… Essa ‘superação’… em experiências mais aprofundadas percebeu-se que consiste em um novo nível de consciência. Algum interesse superior ou mais amplo surgiu no horizonte da pessoa, e, mediante o alargamento da sua visão, o problema insolúvel perdeu sua urgência… O que, visto de um nível mais baixo, havia levado aos mais terríveis conflitos e a explosões emocionais assustadoras, visto de um nível mais elevado da personalidade, parece uma tempestade em um vale vista do topo de uma montanha. Isso não quer dizer que a tempestade foi privada de sua realidade, mas em vez de estar dentro, o sujeito agora se encontra acima dela”.

Marion Woodman, psicoterapeuta junguiana mundialmente conhecida, diz que além de buscar causas e explicações psicopatológicas às nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, amar a nossa “alma”, amar o nosso eu mais profundo, amarmo-nos assim como somos. Ela fala que é a partir do desenvolvimento do “amor próprio” que poderemos reconhecer que nossas feridas e sofrimentos nasceram de uma falta de amor. Nossas feridas e sofrimentos e nosso amor próprio acabam por nos revelar que a “alma” se orienta para um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade, nosso eu profundo, para a realização de nossa totalidade. A nossa própria vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa unidade primeira.

A visão sistêmica encara a saúde em termos de processo continuo, com atividades e mudanças continuas, refletindo a resposta criativa do organismo aos desafios ambientais. Dentro da concepção integrativa e sistêmica de saúde, o autoconhecimento é ponto essencial para o desenvolvimento de uma vida saudável. Ressaltando que a relação com os outros, nesta concepção, são parte intrínsecas do autoconhecimento.

Quando há uma dor no corpo, as suas vibrações são sentidas na “alma” e se a “alma” está adoecida então as vibrações chegarão ao nível do corpo. A pessoa doente é alguém que desenvolveu bloqueios entre ela mesma e sua energia vital. É função do curador, do psicoterapeuta, por exemplo, auxiliar o indivíduo a se reconectar com sua energia vital e a integrá-la de forma consciente no seu dia-a-dia. O curador não pode fazer absolutamente nada além de auxiliar.

Fontes, coordenadora do Curso de Cuidados Integrativos da UNIFESP, também compartilha dessa ideia ao falar sobre o paradigma “Salutogênico” (foco na habilidade e não na deficiência) como aquele que utiliza-se operacionalmente do “Senso de Coerência” (habilidades de mobilizar recursos da força, resistência, potência e capacidade de enfrentamento mediante situações adversas inerentes à vida) e que comunga a ideia de que ninguém cura, de que todos podem ser apenas facilitadores, ou, infelizmente, inibidores do processo de cura, e de que somente o individuo tem o poder de curar a si mesmo.

O autoconhecimento é fundamental no processo de cura, pois traz ao indivíduo a consciência de como ele está, quais seus recursos e suas fraquezas, o que lhe faz mal e o que lhe faz bem… para que, assim, ele possa escolher seu caminho e curar-se.

“Tenho uma razoavel certeza de que podemos mostrar a uma pessoa o que existe, mas não podemos lhe dar aquilo que ela deve fazer […]. Não haveria dificuldade na vida se a pessoa sempre soubesse de antemão como fazer uma coisa. A vida é uma especie de arte, e não uma estrada reta ou um produto pronto que se pode encontrar em cada esquina […] Ninguém pode vivê-la por você ou em seu lugar. Sua vida é aquilo que você tenta viver. Se eu precisasse fazer você passar por alguma coisa, seria a minha vida e não a sua” (Jung).

Na individuação busca-se o todo, busca-se integrar as várias partes de si. E esse desenvolvimento sempre começa com o confronto moral do indivíduo/ego com as características que ele não aceita sobre si mesmo, características que o indivíduo não quer que chegue a sua consciência (sua sombra).

Vale ressaltar que enquanto o indivíduo não estiver pronto, não se deve mexer: não se deve cortar o casulo da borboleta porque o esforço para rompê-lo é importante para estimular a transformação – se cortarmos o casulo de uma borboleta, ela não desenvolve a capacidade de voar! A pressa é inimiga da “alma”, e a perfeição é anseio do ego.

Desenvolver a consciência leva à individuação, a viver a vida em sua plenitude, entendendo que estar consciente de algo é a somatória da emoção, da vivência e do conhecimento intelectual, e não apenas deste último. O terapeuta deve, então, auxiliar o indivíduo a encontrar seu caminho a partir do autoconhecimento, caminho este que o levará em direção à completude, não à perfeição.

Fechando o texto, com as palavras do Jung, podemos dizer que o que dá sentido à vida é saber que você viveu sua própria vida, e não necessariamente a felicidade. Para ele, as dores com significado doem menos, pois sabemos que faz parte do nosso trajeto. A transformação do indivíduo está na passagem do problema, no suportar a tensão (dos opostos), e não na resolução do problema. E o terapeuta deve apontar para onde a energia pode ir (cura) e não apenas para onde a energia está superconcentrada (doença, complexos). Deve-se apontar o caminho, não apenas o congestionamento.

* Esse texto faz parte de uma trilogia:

– Parte I: O que é saúde, doença e cura?

– Parte II: Enfrentando o nosso bicho papão

– Parte III: Aprendendo a sentir, a mover e a relacionar-se

* Sugestão de filmes sobre o assunto:

– “Sete Minutos Depois Da Meia Noite” (Netflix)

– “Divertidamente”

Jovens Transgêneros: a questão da identidade de gênero na adolescência

trans-genero

A adolescência é considerada a fase de transição da infância para a vida adulta. Neste período, o perfil padrão dessas “crianças” (na sociedade ocidental contemporânea) costuma ser o de não aceitar o que é imposto, mas também o de não poder decidir, pois ainda dependem dos pais.

Várias questões surgem nesse período: o desejo de mostrar uma personalidade forte e independente; o entendimento dos problemas do mundo e dos problemas familiares e, principalmente, a sensação de não ser compreendido.

A não compreensão dos outros e o sentimento de não ser compreendido pode ser um reflexo de uma não compreensão de si mesmo. Isso é comum na adolescência e o surgimento de algumas perguntas específicas podem indicar uma crise de identidade: quem eu sou? Eu me identifico com o que eu vejo no espelho? Eu me aceito como eu sou?

Crise de identidade na adolescência

Na adolescência o individuo começa a se perguntar quem ele é, do que gosta e o que quer. Na busca por essas respostas, os jovens geralmente se entregam a muitas e diversas experiências… é comum encontrarmos jovens que mudam frequentemente de opinião, de grupo e de tudo mais que for possível. Eles estão experimentando diferentes modelos e formas de ser e viver para, assim, encontrar quem são.

Até a adolescência, o mundo deles era geralmente aquele moldado pelos pais: a casa, a escola, os passeios, os amigos… geralmente todos escolhidos de acordo com os valores, princípios e formas de viver dos pais.

Na adolescência o jovem começa a ver o mundo além dos muros de sua casa familiar, eles expandem seus horizontes e deparam-se com mundos novos, seja nos livros, na internet, nas ruas ou mesmo dentro de seu próprio ser (que agora começa a se diferenciar significativamente da forma de ser e pensar de seus pais). Nessa trajetória de autoconhecimento, a identidade de gênero, bem como a orientação sexual, vem se tornando uma questão cada vez mais frequente.

Afinal, o que significa identidade de gênero e indivíduo trans?

Tradicionalmente, a questão de gênero é tratada considerando apenas homens e mulheres cisgêneros (“cis”): indivíduos que nascem com a genitália masculina e se identificam como homens e indivíduos que nascem com a genitália feminina e se identificam como mulheres. Ou seja, cisgêneros são pessoas cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído ao nascer a partir de suas características físicas biológicas. E, identidade de gênero é como o indivíduo se reconhece, se vê, se sente e se define – homem ou mulher.

Porém, quando falamos hoje da questão de gênero, estamos ampliando o conceito tradicional já que o mundo contemporâneo vem se tornando cada vez mais inclusivo. Aqui, apresentamos o termo transgêneros (“trans”). A ele definimos como indivíduos que possuem uma identidade de gênero diferente do sexo em que nasceram. Simplificando: o corpo e a mente não estão sintonizados.

Desse modo, uma pessoa que possui o sexo biológico masculino, mas a sua identidade de gênero é feminina, a chamamos de mulher trans. Se alguém que nasce com o sexo biológico feminino, mas a sua identidade de gênero é masculina, ele é chamado de homem trans.

Ressalta-se aqui que alguns indivíduos transexuais buscam procedimentos de redesignação do sexo, incluindo intervenções cirúrgicas e tratamentos hormonais. Nem todos buscam tais medidas, elas não são um requisito para o reconhecimento da identidade de gênero, elas podem ou não fazer parte da transição física de transexuais e transgêneros.

Os termos que ajudam a entender essa questão

Para que você compreenda que a identidade de gênero não é uma caixinha fechada, é necessário conhecer os termos que causam dúvidas aos iniciantes. Veja-os abaixo:

  • Orientação sexual – é utilizado para caracterizar se a pessoa se considera heterossexual (se relaciona com alguém de gênero diferente); bissexual (se relaciona com pessoas de ambos os gêneros), homossexual (se relaciona com pessoas do mesmo gênero) ou assexual (não se relaciona sexualmente, não tem interesse sexual).
  • Sexo biológico – refere-se aos cromossomos e à genitália que a pessoa nasce. Ele que define se o bebê esperado é homem ou mulher. Esse termo abarca ainda a classificação intersexo que representa a genitália que não tem características específicas nem masculinas nem femininas (como os hermafroditas, por exemplo).
  • Expressão de gênero – representa dois aspectos:

1. o que a sociedade definiu como uma apresentação feminina ou masculina. Sendo assim, na cultura brasileira, o comum é que mulheres usem vestidos, saias, maquiagem etc. E que os homens usem calças, bermudas, camisas regatas, terno e gravata etc. Exemplos clássicos e tradicionais hoje já considerados ultrapassado por muitos são: quarto rosa, boneca e batom para meninas; quarto azul, bola de futebol e carro para meninos.

2. Como escolhemos nos mostrar para o mundo. Isso inclui uma quebra dos padrões impostos. Logo, o padrão de apresentação que a sociedade construiu não é seguido. As pessoas se apresentam como elas gostam e se sentem à vontade. Válido destacar que esse rompimento não se restringe a pessoas transexuais, mas está muito associado a eles, sobretudo, no início da transição.

Conhecer esses termos é fundamental para entender as dúvidas pessoais (para os que estão se descobrindo trans) e para aqueles que convivem com pessoas que estão passando pela transição.

Identidade de gênero e adolescência

Com a internet muitas pessoas têm encontrado respostas para perguntas nunca respondidas. Por isso, não se deve considerar que o adolescente está embarcando em uma modinha ou está se deixando levar por algo que leu. Ele pode simplesmente ter encontrado uma resposta simples para uma batalha interna que nem ele sabia que estava vivendo.

Embora se fale muito na palavra empatia, às vezes, é difícil criar esse ambiente entre os nossos familiares. Então, o primeiro passo para ajudar o adolescente a entender esse processo é escuta-lo, é se colocar no lugar dele, é não o julgar e tentar ser um porto seguro nos momentos de conflito. Se ele não encontrar isso em casa, dificilmente encontrará em outro espaço.

E é fundamental também a empatia para com os familiares que estão tendo que lidar, pela primeira vez e sem “repertorio social”, com a transgeneridade. Social e culturalmente essa é uma questão muito nova no mundo ocidental contemporâneo e geralmente muito desafiadora para a geração dos pais, tios, avôs, professores, patrões etc. dos jovens trans. Lembrando que ter empatia não é concordar com a visão, postura e comportamento do outro, mas entende-lo a partir do ponto de vista desse outro. Pais e filhos precisam de um espaço para serem ouvidos e acolhidos em seus conflitos e angustias.

> Como ser pais nos dias atuais (abre numa nova aba)”>Leia também >> Como ser pais nos dias atuais

É no espaço de escuta empática e não julgadora que podemos entender e conviver melhor com o outro, que às vezes pensa, sente e é muito diferente de nós. Não é um tema fácil, uma interação fácil, uma comunicação fácil. É, antes de tudo, um desafio não só individual e familiar (entre pais e filhos), mas coletivo (das instituições, como escolas e locais de trabalho por exemplo, e dos valores morais sociais).

Importante dizer que a identidade de gênero é uma questão que se apresenta fortemente ao individuo na adolescência, mas não é só nessa fase da vida. Estudos apontam que esta questão pode aparecer ao indivíduo em qualquer momento, seja aos dois anos de idade, no final da primeira infância (por volta dos 6 anos), na vida adulta ou na velhice.

O encontro consigo, a paz com o espelho

A maioria das pessoas trans, mesmo aquelas que ainda não tem essa resposta clara, costumam não aceitar o que veem no espelho e não possuem uma relação de paz com a mente. Por isso, é importantíssimo que esses jovens, e também suas famílias, tenham um acompanhamento com um especialista para que eles sejam ajudados a ter um encontro puro e verdadeiro com a sua essência. A partir disso, ele estará preparado para encarar o tradicional e ser quem ele é realmente é.

Dinamismo masculino e feminino: um pouco da teoria psicológica junguiana

Segundo a Psicologia Analítica de Jung, ser masculino não é propriedade do homem, mesmo sendo ele que reúne, na visão contemporânea até aqui, mais condições biológicas, psicológicas e socioculturais de intimidade com esse princípio. O mesmo podemos dizer do principio feminino. Trata-se de um dinamismo presente tanto no homem, quanto na mulher.

Segundo Murray Stein, psicoterapeuta junguiano consagrado, “Masculino e Feminino são qualidades da personalidade humana comuns a ambos os sexos. Porém a natureza do homem tende a ser mais arraigada num espirito Fálico, enquanto a da mulher tende a emergir de um espirito Uterino”.

Importante deixar claro aqui quais são as “características” do feminino e do masculino na visão junguiana. O feminino (o Yin; segundo a doutrina do Tao, ou “espirito Uterino”,) está relacionado, entre outras coisas, com natureza, instinto, emoções, união, relacionamento, contato, fusão, Eros; gestante, receptivo, doação, contenção, apoio; materno doador, materno devorador.

E o masculino (Yang, ou “espirito Fálico”) está relacionado com discernimento, espírito, ordem, abstração, impulso para ação, agressivo, combativo, desafiador; reflexão, consciência, discriminação, cognição, disciplina, lei, abstração, logos.

Podemos questionar a visão de que a “natureza” do homem é ser mais fálica (e a da mulher uterina): será mesmo uma questão de natureza? Mas aqui não quero me ater a isto (quão natural ou quão cultural é), mas sim ao fato de que homens e mulheres apresentam os dois princípios (masculino e feminino) e ao fato de que nossa sociedade geralmente atribui o princípio masculino ao homem e o feminino à mulher.

Tanto o homem como a mulher têm em si um lado feminino e um lado masculino, ambos importantíssimo ao indivíduo. Lidar de forma equilibrada com esses dois aspectos internos é essencial para uma vida completa e saudável. Quando um desses aspectos é negligenciado, podemos observar comprometimentos na personalidade, nos relacionamentos afetivos e na forma do indivíduo lidar e estar no mundo.

Estamos tão impregnados dos valores coletivos patriarcais que entendemos os modelos culturais de conduta de homens e mulheres como a verdadeira natureza dos mesmos. Podemos ter nascido homem ou mulher, nos identificarmos como homem ou mulher, mas todos temos dentro de nós o princípio masculino e o princípio feminino, os quais precisamos conhecer e nos relacionar de forma inteira e acolhedora.

COVID-19, Muitos Aprendizados

Hoje recebi um vídeo gravado por mergulhadores em 30 de março de 2020: uma família de golfinhos saltava “serelepe” em plena Baia de Santos. Sim, não era em Fernando de Noronha, era na Baia de Santos!

Quando os homens se confinam, os animais, antes confinados, podem sair de suas “tocas” e novamente ocupar de forma plena o planeta. Amigos e pacientes também relatam um número maior de pássaros e borboletas nas janelas de suas casas e, todos nós estamos respirando um ar mais puro.

O que nós, indivíduos e humanidade, podemos e devemos aprender com essa experiência surreal?

O COVID-19 está aqui, é intenso, rápido, devastador… não dá para negar. Mas, o que ele pode nos ensinar?

Cuidar da natureza, lembrar que existem outras espécies que vivem conosco nesse planeta e que têm o direito de ocupá-lo mais livre e saudável; valorizar a ciência, os jornalistas, a escola e os médicos, são alguns exemplos.

Esse vírus traz consigo uma doença. Muitas linhas da saúde acreditam que a doença é um alarme para despertarmos… é o nosso corpo gritando, pedindo ajuda. Hoje é também o “corpo-humanidade” que grita como um todo!

Se tivermos dores de estomago ou gastrite talvez algo não esteja sendo, simbolicamente, bem digerido ou algo esteja queimando, nos corroendo por dentro. Se há dor de garganta ou inflamação nas amigdalas, pode ser o corpo mandando um recado: “você precisa falar mais, expressar-se mais, colocar as coisas que sente para fora”. Se há problemas de prisão de ventre, talvez o indivíduo não esteja conseguindo eliminar coisas tóxicas que vive no seu dia a dia em casa, ou, outra opção, é ele estar com dificuldade em produzir e levar para o mundo sua produção criativa. E por aí vai… Lembrando que estes são apenas exemplos, não regras; apesar dos símbolos (que se relacionam com as doenças) serem coletivos, trazem também muito da vivencia pessoal de cada um.

Partindo do paradigma de que a doença é um alarme para despertarmos e que, se não a ouvirmos, ela agrava, devemos nos perguntar: o que o COVID-19 quer nos dizer?

Penso ser um momento de cura da humanidade, um convite para uma reforma íntima e também coletiva. É preciso mergulhar para vermos o que há dentro de nós que precisamos cuidar, enquanto indivíduos e enquanto espécie.

Saúde Mental em Tempos de Corona Vírus – Como lidar com a ansiedade, o pânico e a depressão?

Muitos já vivenciavam angustia, pânico, ansiedade e depressão. Hoje, frente a pandemia, esses sintomas e o número de pessoas atingidas por eles cresce. As pessoas temem sua própria morte ou a morte de um ente querido, temem a hospitalização, o colapso financeiro, a pobreza, a fome, a violência, a falta de alimentos etc.

A ansiedade é uma inquietação da mente ligada ao futuro. O COVID-19 nos apresenta um futuro completamente incerto, as informações mudam a todo instante, o panorama é tão novo que nos parece irreal, uns negam, outros entram em pânico, outros lidam de maneira um pouco mais equilibrada.

Abro aqui um parênteses para pontuar algo bem importante: alguns sintomas de pânico podem ser confundidos com os sintomas do corona vírus: ao entrarmos em pânico, nosso organismo apresenta dispneia (dificuldade para respirar), falta de ar, sensação de estar morrendo, desespero e, consequentemente, aumento da temperatura corporal. É importante buscar se acalmar e centrar-se, no momento da crise (o que é um pouco difícil), no inicio dela e, também, ao longo desses dias todos de quarentena e pandemia (como medida preventiva), por isso:

  • Faça psicoterapia, meditação e esteja ativo (estimulando corpo e mente),
  • Organize uma rotina diária, fale com amigos,
  • Diminua o “consumo” de informações/noticias sobre o tema (limite-se a acessar apenas sites/jornais confiáveis, se informando apenas uma ou duas vezes ao dia sobre o que está acontecendo e como proceder),
  • Não se cobre e não se critique muito (afinal todos nós estamos passando por tempos turbulentos),
  • Ouça música e faça coisas que lhe dão prazer e que lhe façam rir (mesmo e apesar desse contexto),
  • Cuide da alimentação e da higiene, tome sol, faça atividades relaxantes e atividades expressivas (como escrever, tocar um instrumento, dançar e pintar).

São coisas que nos ajudam a não nos entregarmos ao desespero e à depressão. Lembrando que não nos entregarmos é diferente de negarmos a realidade e a gravidade da situação. Responsabilidade e cuidado com o outro e consigo mesmo é fundamental!

A Importância do Cuidar

O tema “cuidado” deve ser um dos nossos grandes aprendizados nesse momento: cuidar de si (alimento, corpo, emoções), do outro (solidariedade) e também aprender a permitir-se ser cuidado.

Uma amiga relata, a partir da leitura de um dos seus inúmeros livros que adquiriu para passar a quarentena, que descobriu quanto importante é dormir bem. O livro trata desse tema e ela, inconformada com a negligência que todos nós tratamos o sono apesar de existirem, há muito tempo, varias pesquisas cientificas apontando para os danos causados por uma má qualidade do sono, já começa a rever seus hábitos para poder dormir melhor.

Muitas pessoas que antes ficavam apenas enfurnadas em seus escritórios, afazeres profissionais, academias, vitrines e “espelhos”, agora têm a possibilidade de olhar para fora, mesmo de dentro de casa, e, ao encontrarem a fragilidade do outro, organizam-se para doar cestas básicas, montar grupos de apoio, durante o confinamento. Solidariedade! E como é gostoso ouvir o relato dessas pessoas que, perante o caos, encontram prazer em ajudar o outro.

Alguns “médicos seniors”, altamente qualificados, que sempre lutaram em não demostrar sua fragilidade, amedrontados agora com os sintomas de gripe e/ou ansiedade, começam a buscar ajuda nos enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos. Eles estão aprendendo a olhar e a aceitar suas vulnerabilidades, pedir e receber cuidado pela primeira vez depois de adultos. E isso é, psicologicamente falando, muito importante e rico para o crescimento pessoal do indivíduo.

Aprendizados Coletivos

Uma colega, enfermeira de um grande e importante hospital público de São Paulo, relata sua experiência em tempos de corona vírus: nunca ela, nem seus companheiros enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e agentes de saúde em geral, foram tão bem tratados e reconhecidos pela sociedade. Entre aplausos populares vindos das janelas de todo Brasil, agora também recebem, da população civil, pizza para se alimentarem durante o expediente e, do sistema de saúde, camas apropriadas para descansarem durante os plantões de trabalho (antes deitavam no chão ou em macas improvisadas no corredor).

Segundo ela, o COVID-19, além precarizar a rede dos hospitais privados, trouxe sobriedade às pessoas: agora elas se preocupam com os idosos, com a condição dos hospitais e dos profissionais da saúde, dos moradores de rua, ambulantes, moradores das diversas comunidades, cuidam mais da sua saúde, lembram que a morte existe, que as coisas são finitas, que têm afeto e vontade de estarem com as pessoas queridas etc.

E os pais? Com vários pais e filhos “presos” dentro de casa, eles descobriram a importância e o prazer de estarem mais próximos dos seus filhos… são muitos os relatos de felicidade de poderem estar pertinho de suas “crias” e perceberem a satisfação dos filhos com essa proximidade.

Mas há também o desespero: “o que faço com essas crianças sem escola?” e, “como eu vou ensinar o conteúdo que os professores estão passando virtualmente?” Nas ultimas décadas muitos pais vinham delegando à escola e professores a educação completa (social, emocional, cognitiva, ética, moral…) de seus filhos, isentando-se quase que completamente da responsabilidade de educa-los. Além de conhecê-los e interagir mais de perto, agora os pais, entre “surtos” e/ou gargalhadas, precisam aprender a educá-los. E mais, hoje são eles que estão sendo chamados, de alguma forma, a dar conta de tudo, ensinando alguns dos conteúdos formais escolares, precisando ser um pouco professor quando suas crianças não compreendem perfeitamente o que a escola solicitou.

Pais e sociedade descobrem a importância dos professores! A arte, artistas, cultura veem ganhando algum reconhecimento, mas ainda bem tímido a meu ver. Profissionais da segurança pública, policiais, bombeiros etc. ainda aguardam reconhecimento.

Estamos também aprendendo a valorizar o sol, a liberdade de ir e vir, os abraços, o pegar na mão, o encontrar entes queridos; aprendendo a apreciar a beleza da natureza e de todas pequenas coisas da vida. E muitos estão descobrindo e aprendendo que muitas pessoas (e outros seres vivos) nunca ou pouco tiveram a possibilidade de vivenciar essas pequenas coisas.

O tempo, a falta de tempo, a ecologia, o respeito mutuo etc. etc. etc., são muitas aprendizagens possíveis.

Aprendizados Individuais

Individualmente o COVID-19 e a quarentena nos convidam a uma reforma íntima. É extremamente difícil olharmos para dentro, abrir nossas gavetas internas, mexer no nosso “lixo”, na nossa sombra. Há muito medo do nosso próprio julgamento, há o receio da transformação (algumas vezes, mesmo quando conscientemente dizemos que queremos mudar, há um outro lado, inconsciente, dentro de nós que teme essa mudança e tenta nos boicotar).

Mas em meio a esse aparente “lixo” todo, em meio às nossas “feras ferozes internas”, sentimentos e posturas “deploráveis” (seja de raiva, egoísmo, incompetência ou fraqueza, por exemplo), habita, dentro de nós, nossa criatividade, nossa força, nossa potencia. Podemos acessar coisas julgadas boas e coisas julgadas más, coisas que não conhecíamos ou que não queiramos ver de nós mesmos. E, a partir disso, podemos nos tornar mais inteiros.

Podemos, como os alquimistas, misturar “substâncias” e transmutarmo-nos para algo além. Os alquimistas buscavam transformar pedra em ouro… esse é o convite!

A grande maioria dos meus pacientes que agora, na quarentena, atendo por vídeo, não trazem necessariamente novas questões frente a pandemia. Quando olhamos com cuidado observamos que são as mesmas questões de antes, mas amplificadas e aprofundadas. O vírus e a quarentena têm ajudado-nos, eu e meus pacientes, a mergulharmos mais fundo em suas almas. Com esse mergulho profundo, acredito, podemos emergir transformados em pessoas mais autoconscientes e mais inteiras (o mesmo acontecendo com a humanidade).

Rever e destruir padrões mentais, comportamentais e emocionais tem sido um tema recorrente e forte nas sessões: limpar a casa, concreta e simbolicamente. Olhar para tudo que temos, selecionarmos o que ainda nos serve, deixarmos ir o que não nos faz mais sentido ou que nos faz mal: falar “tchau” para nosso lado excessivamente autocritico, para um relacionamento abusivo e tóxico, para o papel de vitima ou de superprotetor que ocupamos na nossa família etc., são alguns exemplos desse processo de limpeza. Momento de desapego, de limpeza para dar lugar ao novo e para abrir espaço para aquilo que realmente valorizamos e queremos em nós e em nossas vidas.

Momento de nos fecharmos em casa, mas nos abrirmos para novos mundos. Momento de nos abrirmos, com olhos abertos e muito atentos, para o novo e desconhecido, dentro e fora de nós.

Alguns dizem que não vêm a hora de tudo voltar ao normal, eu prefiro que nada mais seja como antes, que nós possamos aprender, e muito, com essa doença que hoje nos assola violentamente, mas que, ao meu ver, só traz a tona as doenças que já existiam no amago do nosso ser e da nossa sociedade.

Desafios de como ser Pais nos dias atuais

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Nas gerações passadas, a dinâmica familiar era quase sempre desenhada da mesma forma: pai trabalhando fora e a mãe cuidando da casa e da educação dos filhos.

Os meios de comunicação eram limitados e criavam-se os filhos com uma rigidez quase militar. O que faz muitas pessoas visualizarem essa sistemática como a única que realmente funciona e consegue formar pessoas de bem e adultos responsáveis.

Na atual conjuntura, uma mudança cultural levou a mulher ao mercado de trabalho e a responsabilidade pela educação dos filhos passou a ser dividida com toda a família. E, muitas vezes delegada a babás, professores particulares, escolas, clubes, nutricionistas etc.

A tecnologia e o acesso fácil à internet abrem um mundo de informações e estímulos a crianças e adolescentes. Há quem diga que essa nova geração deveria ser educada da mesma forma que os nossos pais e avós foram criados.

Os tempos mudaram, mas será que também mudou a forma como pais e filhos se relacionam?

O “melhor sistema” para a educação de filhos não existe

A tarefa de criar e educar os filhos é realizada de diversas maneiras, variando muito, dependendo da época, da cultura e do estrato social em eles encontram-se inseridos. A forma que hoje o mundo ocidental cria “seus filhos” não é única e, provavelmente, também não é a melhor forma possível. Por isso estamos constantemente vendo e revendo formas de educar crianças e adolescentes.

Como diz o subtítulo desse artigo, o “melhor sistema” para a educação de filhos não existe! Por exemplo, na Idade Antiga, as classes superiores romanas, que queriam fazer de seus filhos guerreiros qualificados e homens de estado capazes, tinham que educar seus filhos diferentemente dos cristãos primitivos, para os quais a maior preocupação era fazer com que seus filhos aprendessem a amar a Deus e assim ganhassem o paraíso.

As metas de nossa educação mudam praticamente a todo o momento, antes a cada 10 ou 20 anos e hoje chega a mudar de um ano para outro. Hoje, logo que formulamos um estilo de educação, surge uma nova imagem modelo de homem e a meta educacional precisa, consequentemente, mudar também. Por essa razão, entre outras, é impossível avaliar a eficácia de uma forma de educação em particular.

Então, podemos concluir, nas palavras de Guggenbuhl-Craig, analista junguiano, que, independentemente de nossos esforços, os vários sistemas de educação exprimem simplesmente nossas próprias fantasias e concepções sobre educação, respondendo à questão de como as crianças devem ser formadas para se tornarem os adultos que queremos que sejam.

Qual a meta educacional da nossa sociedade atual? Que tipo de pessoas queremos formar?

O mais difundido sistema de educação atual ocidental prega o controle parental cuidadoso sobre nossos jovens da infância à adolescência, promovendo pessoas com fortes sentimentos e ligações pessoais, mas que tendem a ser continuamente desiludidos pelo grande mundo quando começam a perceber que nem todas as outras pessoas são tão amorosas quanto “papai” e “mamãe”. O grande problema desse sistema de educação é o fato dele ser e desenvolver indivíduos narcisistas. A grande vantagem é que se estimula uma maior capacidade de amor pessoal. Vale lembrar que apesar desse ser o modelo educacional “escolhido” e “defendido” como “correto” em nossa sociedade atual, nem todos os filhos, por motivos diversos, recebem esse tipo de educação. Mas, de qualquer forma, esse é o modelo visto com bons olhos pela nossa sociedade.

Mudança cultural, culpa e narcisismo

Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, tanto o pai, quanto a mãe, passaram a ficar mais tempo fora de casa, consequentemente, terceirizando o cuidado com os filhos, seja na escola, atividades extracurriculares ou cuidadores.

Diferente das gerações anteriores, os pais atuais se veem cobertos de culpa por não passarem tanto tempo com os filhos. Isso também é reflexo da própria criação que receberam, mais distante e menos emotiva. Por algum tempo várias linhas da psicologia defenderam que o importante era a qualidade do tempo que se passava com os filhos, e não a quantidade, amenizando o sentimento de culpa dos pais. Durou pouco, hoje essa premissa já é questionada.

Para suprir as necessidades emocionais dos filhos, os pais costumam substituir as horas de companhia por bens materiais, estimulando o consumismo exagerado e sendo permissivos, na ilusão de que estão levando sua criação de forma livre, sem a rigidez com que foram criados e de que se ressentem tanto.

O medo de não serem realmente amados pelos filhos faz com que evitem qualquer tipo de frustação e ao menor sinal de desconforto emocional da criança ou adolescente, algo deve ser feito imediatamente para evitar que sintam dor, sofrimento ou infelicidade.

Há também o desejo de perfeição que é projetado nos filhos. Estes devem ser os melhores: os mais competentes, com maiores habilidades (intelectuais, emocionais, sociais, esportivas, artísticas etc.), mais altruístas (desde que não percam o primeiro lugar no pódio ou na fila, é claro) e muito felizes e realizados… compensando, assim, a infelicidade e a falta de sentido que muitos adultos vivenciam em suas próprias vidas; ou compensando aquilo que lhes foi negado na infância e juventude.

É importante, enquanto pais, nos perguntarmos: a quem estamos tentando agradar? Aos nossos filhos, a nós ou aos outros?

Muitos pais, mesmo sem perceber, mesmo inconscientes dessa atitude, querem que seus filhos sejam o que eles queriam ser e não são, ou não foram. Podem também usar seus filhos como “troféus” perante familiares e amigos, numa tentativa narcísica e desesperada de mostrarem ao mundo como são pais extremamente competentes e bons: precisam se sentir e serem reconhecidos como pais perfeitos para se sentirem inteiros.

Alguns, ou melhor, vários pais, divorciados ou não, competem entre si para saberem quem é o melhor pai/mãe, o mais competente, ou qual é aquele de quem o filho mais gosta. É fácil intuir que essa competição não é nada saudável, nem para os filhos, nem para os pais.

Os filhos, neste contexto acima apresentado, costumam ocupar um lugar central na vida familiar, sobrecarregando-os de atenção, ”hipercuidado”, “hiper exigência” e gerando uma sensação de “dívida” imensa para com seus progenitores (ou cuidadores). Precisam ser perfeitos e amar seus pais/cuidadores incondicionalmente. Ser o centro da família por um longo período (infância, juventude e, muitas vezes, se estendendo à vida adulta) tem um preço muito caro a ser pago. Ao tentarem agradar seus pais, os filhos muitas vezes acabam distanciando-se em demasia do que eles realmente são e querem para si mesmo. Apatia, baixa autoestima, imaturidade, depressão e ira incontrolável são algumas das consequências possíveis num quadro como este, quando não olhados, cuidados e transformados.

Mas calma, todos nós – pais, filhos, sociedade – estamos em constante aprendizado, não somos perfeitos, erramos e vamos continuar errando muito… faz parte da vida. Mas também é inerente ao ser humano desenvolver-se enquanto individuo e enquanto sociedade, transformando e transmutando-nos. O aprendizado faz parte de nossa trajetória. Olhar atentamente e com “carinho” para nós mesmos, para nossos pais e filhos, para a dinâmica familiar em que estamos inseridos é o primeiro passo para modificarmos aquilo que não está funcionando muito bem. O processo psicoterapêutico é uma das maneiras, não a única, de auxiliar o individuo neste caminho, já que promove e facilita o autoconhecimento através da escuta apurada e sem julgamento por parte do profissional.

Mimados, egocêntricos e privados de contato humano

A criança, mesmo muito pequena, monopoliza e “manda” na casa. A alimentação, por exemplo, fica a critério do paladar dos filhos, seja saudável ou não. Aqui encontramos novamente um sobrepeso para os filhos: controlar uma casa e ter que se haver com tantas opções de escolha é muita responsabilidade para uma criança, mesmo que, aparentemente, ela pareça extremamente satisfeita com esse poder todo. Uma criança pequena ainda não tem discernimento do que é certo ou errado, do que pode ou não pode fazer.

Por outro lado, há sempre alguém para arrumar os brinquedos, o quarto e o material escolar, até mesmo dos adolescentes. É preciso que o adulto decida coisas por ela e pela casa, é preciso que o adulto imponha limites e ensine-a que cumprir regras vai fazer parte da convivência dela em seu meio social.

Crianças, e até bebês, têm acesso a celulares e tablets desde pequenos, uma solução que se mostra eficiente ao menor sinal de choro ou insatisfação. Esta é uma distração cada vez mais recorrente, que prende aquele pequeno indivíduo em um mundo onde não há a necessidade de interação com outras pessoas; onde a frustração é mínima; onde a espera é nula e onde seus atos (geralmente o toque do polegar num visor) não geram consequência alguma (não desenvolvendo a noção de responsabilidade pelos seus atos). Este cenário precisa ser visto e cuidado. Já há, por exemplo, evidências de sintomas autistas em crianças muito pequenas devido ao uso indiscriminado de aparelhos eletrônicos em detrimento do contato humano, contato este que é fundamental para o desenvolvimento emocional, motor e cognitivo do individuo.

Conforme vão crescendo, a internet também entra em suas rotinas, trazendo informações sobre variados assuntos (algumas vezes inverídicas ou improprias para idade da criança) e amizades virtuais que podem ser bastante negativas (e até mesmo criminosas).

Na ânsia de acertarem e protegerem os filhos, muitas vezes os pais da atualidade formam indivíduos mimados e egocêntricos, que não sabem lidar com pessoas e com sentimentos como fracasso, frustração, tristeza etc.

O equilíbrio como aliado na educação

Nem tão rígidos como foram criados, nem tão permissivos como estão criando seus filhos. Todos nós sabemos que a diferença entre remédio e veneno está na sutileza da dosagem.

Se no passado alguns de nós fomos educados de forma severa, não necessariamente devemos repetir com nossos filhos e, uma relação mais amorosa não vai interferir de forma negativa na criação de um indivíduo.

Ensinar os filhos a organizar os brinquedos, o quarto ou ajudar em pequenas atividades domésticas não vai fazer com que eles amem menos os pais, ao contrário, vai trabalhar seu senso de responsabilidade e deixa-los mais independentes. O exemplo deve vir dos próprios pais e cuidadores.

Mas será que não enxergamos os erros que cometemos, tentando acertar na educação dos nossos filhos? Muitas vezes não, pois, por mais que tentamos acertar, temos nossos pontos cegos e nosso limite humano (não somos perfeitos!).

Buscar ajuda não desmerece o papel dos pais

Cresce muito o número de pais que se preocupam em entender as reais necessidades de seus filhos e formar indivíduos mais preparados para viver em sociedade. E esta não é uma luta solitária.

Nos dias atuais as mudanças de uma geração a outra é muito mais intensa do que antes, o mundo gira muito mais rápido, tornando mais difícil a percepção, a escolha e a ação do que e de como lidar com nossos filhos e com nós mesmos enquanto pais e educadores. O mergulho no mundo virtual das crianças e adolescentes e as questões de gênero (leia sobre este tema no próximo artigo) são bons exemplos disso. Educar exige dedicação, amor, responsabilidade, maturidade, consciência e, “cá entre nós”, muita paciência! Você não vai ser menos pai ou mãe se procurar ajuda de profissionais, escolas ou livros. Educar não é uma tarefa fácil, nem simples.

COVID–19 e a Realidade Surreal

As lembranças de alguns filmes não param de vir a minha mente.

Do recém grande premiado no Oscar, Parasita, passando pelo óbvio Epidemia e terminando no maravilhoso O Sal da Terra, documentário sobre o grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

Em Parasita, a fala do pai (Song Kang-ho), em meio a um galpão/abrigo, após a calamidade decorrente da intensa chuva e consequente inundação de várias regiões da cidade, para seu filho (Choi Woo-shik) me fisga a todo momento: ele fala (não sei precisamente suas palavras, mas foi o que ficou em mim registrado) que não é possível prever as coisas, que não temos o controle de nada, que nada é garantido. Ou seja, ele fala da nossa “pequenez” diante do mundo, da nossa frágil ideia de controle da nossa vida, em que nossos planos, vontades e, aqui eu acrescento, mesmo as ideais que temos de nós e dos outros de repente se rompem, desfazem. As vezes são surpresas positivas, outras não. E como lidar com as surpresas negativas que nos tiram o chão? Como lidar com as incertezas decorrente desse “destrilhamento”?

No filme citado acima, filho e pai seguem caminhos bem diferentes (e, aqui, não vou dar spoiler… para aqueles que não viram o filme, vejam!). Qual o caminho que podemos seguir frente as pedras que surgem em nossos caminhos?

É aqui que o filme O Sal da Terra me encanta e comove, trazendo fé e esperança. Nele consigo ver, pelas lentes de Sebastião Salgado, a beleza no feio e na dor, e, pelos passos deste e de sua esposa, toda a esperança e reconstrução da vida (novamente sem spoiler… assistam o filme!).

Estamos passando por um momento de reclusão, de angústias grandes e concretas e de angústias “pequeno burguesas”… ambas intensas, reais e verdadeiras, que exigem um olhar cuidadoso. Momentos de pânico, dúvidas e confusão, mas também um momento de pausa, de possibilidade e elaboração e reelaboração, de contato íntimo (mesmo que fisicamente distante), de comunicação, solidariedade.

Momento que nos obriga e nos convida a olhar tanto para dentro de nós (e encararmos nossas belezas e nossas feiuras, como nosso egoísmo, por exemplo) como para fora, para o parceiro, para os filhos, pais, colegas, vizinhos, seres humanos, planeta terra.

Um mergulho diferente que vem sendo vivido para muitos com muita tensão e medo. Mas esse mergulho também pode promover transformações ricas e significativas. Um momento para revisitar situações e relações; reelaborar as que ainda se fazem presentes pela dor (como os pequenos e grandes traumas); apreciar e trazer mais para perto, para dentro de nós, aquelas que nos deram e que nos dão força.

Momento para se conectar com o real, tirar vendas, refletir, enfrentar de frente, com muito cuidado, amor, compreensão e acolhimento, o que está em nós (sentimentos e pensamentos) e ao nosso redor.

Momento de se conectar com a Grande Sabedoria, com os Arquétipos da Velha Sábia e do Velho Sábio (referência à psicologia junguiana), da Sabedoria que habita cada um de nós, mesmo que muitas vezes esquecida, abandonada, distante ou aparentemente ausente.

Nesse cenário atual, faz-se necessário cada um buscar o que lhe faz bem: voltar-se para si numa introspecção, falar e trocar sentimentos ou apenas bater um papo com os amigos on-line, desenhar, fazer exercícios físicos em casa, escrever para si ou para o mundo todo ler, meditar, rezar, ajudar os outros on-line, cuidar mais de si etc. Pergunte-se: o que lhe faz bem e é possível de você realizar nesse momento?

Que cada um de nós, e a humanidade como um todo, supere da melhor forma possível essa pandemia. Que possamos, a partir dela (que está aqui, presente, querendo ou não!), transformamo-nos e tornarmo-nos pessoas mais autoconscientes.

Termino esse texto desejando muita sabedoria e resiliência a todos nós!

Trilogia do Pânico e Ansiedade Parte I: Sintomas e outras questões relacionadas ao pânico

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Ansiedade, Pânico e o Mito do Deus Pã

A violência das crises de ansiedade e pânico têm vitimado cada vez mais pessoas de forma súbita, limitando setores importantes da vida relacional destas.

Impossível pensarmos o ataque de pânico apenas como uma síndrome psiquiátrica. O medo, a ansiedade e sua forma extrema, o pânico, são reações características das espécies animais superiores e inerentes à condição humana. O pânico é um sinal de alarme de que algo não vai bem ao nível psíquico. E a simples eliminação dos sintomas através da medicalização pode significar a perda de uma oportunidade para reformular uma vida, ou aspectos dela, que se encontra estagnada, exigindo reformulação.

Sintomas e outras questões relacionadas ao pânico

O mundo, as notícias de jornais e as diversas histórias trágicas que ouvimos recorrentemente parecem nos convidar, cada dia mais, a nos tornarmos mais preocupados, desiludidos e ansiosos.

A ansiedade nos pega! Como não nos identificarmos totalmente com ela? O que sou eu e o que é a minha ansiedade?

A OMS (Organização Mundial de Saúde), em maio de 2019, considerou o Brasil o país mais ansioso do mundo: somos 18,6 milhões de pessoas sofrendo de ansiedade.

Definição de Transtorno do Pânico segundo a DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):

É uma doença (ansiedade paroxística episódica) que se caracteriza pela ocorrência repentina, inesperada e de certa forma inexplicável de crises de ansiedade aguda marcadas por muito medo e desespero, associadas a sintomas físicos e emocionais aterrorizantes, que atingem sua intensidade máxima em até 10 minutos. Durante o ataque de pânico, em geral de curta duração, a pessoa experimenta a nítida sensação de que vai morrer, ou de que perdeu o controle sobre si mesma e vai enlouquecer.

A primeira crise pode ocorrer em qualquer idade, mas costuma manifestar-se na adolescência ou no início da idade adulta, sem motivo aparente. O episódio pode repetir-se, de forma aleatória, várias vezes no mesmo dia ou demorar semanas, meses ou até anos para surgir novamente. Pode também ocorrer durante o sono.

O transtorno do pânico consiste em ataques de pânico recorrentes que causam uma preocupação excessiva com ataques futuros e/ou modificações de comportamento para evitar situações que poderiam desencadear um ataque.

Uma crise isolada ou uma reação de medo intenso diante de ameaças reais não constituem eventos suficientes para o diagnóstico da doença. As crises precisam ser recorrentes e provocar modificações no comportamento que interferem negativamente no estilo de vida dos pacientes.

O ataque de pânico começa de repente e apresenta pelo menos quatro dos seguintes sintomas:

– Medo de morrer;

– Medo de perder o controle e enlouquecer;

– Despersonalização (impressão de desligamento do mundo exterior, como se a pessoa estivesse vivendo um sonho) e desrealização (distorção na visão de mundo e de si mesmo que impede diferenciar a realidade da fantasia);

– Dor e/ou desconforto no peito que podem ser confundidos com os sinais do infarto;

– Palpitações e taquicardia;

– Sensação de falta de ar e de sufocamento;

– Sudorese;

– Náusea;

– Desconforto abdominal;

– Tontura ou vertigem;

– Ondas de calor e calafrios;

– Adormecimento e formigamentos;

– Tremores, abalos e estremecimentos.

Com frequência, portadores do transtorno do pânico apresentam quadros de depressão. Em alguns casos, alguns buscam no alcoolismo uma saída para aliviar as crises de ansiedade.

Pânico: um medo que protege ou que limita o viver?

A ansiedade é algo que agita nossa mente, é uma reação frente ao medo, um mecanismo de defesa contra uma situação que nos amedronta.

Mas devemos enfrentar o medo, enfrentar os sintomas que ele gera (ansiedade, pânico) e fazer o novo? Ou devemos ouvir nossos medos, considerar os sintomas de ansiedade como “amigos” que nos alertam contra um perigo real, físico ou psíquico? Exemplificando, um perigo físico real seria, por exemplo, o caso de uma pessoa andar sozinha a noite, num lugar conhecido por ser violento (assaltos etc). Um perigo psíquico real seria, por exemplo, o caso de um jovem imaturo, com pouca independência emocional e que esteja vivendo o luto de uma pessoa significativa para ele, aventurar-se a sair da casa dos pais e ir morar num outro país. Lembrando que a distinção entre físico e psíquico, real e imaginário, é muitas vezes mais pedagógica, dado que a linha entre eles é tênue e que as partes são na verdade constituintes de um só todo.

Mas voltando a nossas indagações: quando o medo e os sintomas ansiosos estão nos protegendo? E quando estão nos boicotando e nos impedindo de viver plenamente?

O papel da psicoterapia é olhar e esclarecer, junto com o paciente, que medo é esse, medo do que? O que pode acontecer se eu enfrentar esse medo? Tenho medo dos meus desejos e vontades? Que desejos e vontades são esses?

Temos medo das “coisas ruins”, mas também temos medo das “coisas boas”. Temos medo de nos entregarmos as coisas boas, de viver o bom e de repente elas sumirem. Então, muitas vezes, quando tudo está bom, nos boicotamos, arrumamos problemas onde não existe (no trabalho, no amor etc). Destruímos o bom, ou o que pode vir a ser bom, com medo de perdê-lo, porque nos parece melhor acabar com algo “pelas nossas próprias mãos” do que ficar a mercê do outro ou do destino. Geralmente isso acontece na vida de pessoas inseguras e controladoras, elas tiram o bom de suas vidas com medo da vida tirar isso delas: elas preferem controlar do que viver. Claro que não é uma escolha consciente, e claro que a intensão é evitar a dor. Diante de tantas questões, uma coisa é certa: o desafio e a crise de pânico nos tira da nossa zona de conforto.

Continue a Leitura >> Parte 2

Trilogia do Pânico e Ansiedade Parte II: O mito do Deus Pã, um convite para pensar de forma profunda o transtorno do pânico

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As lendas, os contos de fada e os mitos ajudam a agente a entender e a elaborar dificuldades comuns a todo ser humano por expressarem, em forma de história, emoções, dúvidas, experiências e formas diversas de enfrentar e lidar com as intempéries inerentes à vida.

Os mitos compartilham conosco os padrões humanos; seus desafios, medos e resoluções possíveis. Para a psicologia analítica, os Deuses são arquétipos do Inconsciente Coletivo, atuantes na psique humana, mesmo que de forma inconsciente, agindo muitas vezes abaixo da superfície. O que os antigos chamavam de Deuses, hoje nós chamamos de acaso, impulsos, instintos, sintomas, energias.

É o Deus Pã da mitologia grega que dá origem a palavra Pânico. Então, para nos auxiliar com esse tema – pânico – vamos pedir ajuda ao Mito de Pã. E, vale ressaltar aqui, que no reino do simbólico, dos mitos, não temos a precisão e a regularidade que estamos acostumados a encontrar nas ciências positivas, sujeitas às categorias de tempo, espaço e causalidade. É preciso suspender a forma de pensar mecanicista para penetrar na vivencia do emocional e do intuitivo.

Pã, em grego, significa “tudo”. O Deus Pã representa a Natureza; o Grande Todo, ao qual tudo se subordina, e a multiplicidade de formas e atributos. Ele apresenta um caráter mediador entre deuses e mortais e relaciona-se com as emoções e com o inconsciente.

Ele é um monstro, metade animal, metade humano, representando, assim, nossa dupla natureza, a instintiva animal e a espiritual humana. Sua figura assusta e provoca horror, que pode ser vista como o medo que nos causa o irracional e o inconsciente. Então podemos, a partir da simbologia de Pã, nos perguntar: eu tenho pânico do quê? O que dentro de mim me causa tanto terror? Que parte minha irracional e inconsciente me dá tanto medo?

Ele tem chifres, orelhas e pernas de bode e está associado a outro Deus, Dionísio, deus do êxtase, do prazer, dos delírios orgásticos, da dança e da loucura. Pã, desde os tempos mais remotos, está associado a sexualidade desenfreada e ao estupro. Simbolicamente podemos pensar num conteúdo interno nosso, irracional e inconsciente, que de repente ameaça aflorar, tornar-se consciente, ultrapassar os limites do nosso “política, moral e socialmente correto”… isso nos assusta imensamente… e disso nasce o pânico, o medo dos nossos próprios desejos e anseios. Não estamos falando aqui de desejos sexuais concretos (apesar de podermos estar, sim, em alguns casos, falando deles), mas da sexualidade simbólica, que pode representar inúmeros tipos de desejos: desejos de rupturas, de poder, de destrutividade, de aceitação de características nossas que nossos familiares condenam (como o caso de querer trabalhar com algo mal visto por eles; querer ser um educador físico numa família de sociólogos acadêmicos preconceituosos, por exemplo) etc.

Esses desejos internos inconscientes podem ser tão contrários a nossa consciência que, ao ousarem emergir, tomamo-los como um estupro ao nosso eu consciente. Por isso o pânico.

Nessas situações, nossa consciência, nosso eu consciente, identifica-se com as ninfas (espíritos naturais femininos, leves e delicadas) da mitologia grega. Nos mitos há diversos relatos do deus Pã perseguir e estuprar as ninfas. A ninfa Eco, por exemplo, diante da tentativa de Pã em violenta-la, é tomada de pânico e passa a repetir tudo o que ouvia, ficando sem identidade própria. As ninfas são símbolos dos aspectos da nossa natureza psíquica feminina (presente em mulheres e homens) que, perante a violência dos impulsos (personificados por Pã) regridem ou tornam-se desvitalizados.

Pã é o deus dos pastores, dos rebanhos e da vida animal; habitava os lugares ermos e desolados e, simbolicamente, associa-se também ao abandono, solidão, separação e isolamento.

O perfil clássico do indivíduo que apresenta transtorno do pânico

No caos do dia a dia moderno deparamo-nos com diversos desafios. Cada um de nós reage às dificuldades encontradas pelos caminhos da vida de uma forma: uns psicossomatizam, adoecem (gastrite, enxaqueca etc.), outros têm ataques de raiva, uns deprimem… alguns por longos períodos, outros em momentos pontuais da vida. E há aqueles que apresentam crises de ansiedade e pânico.

Segundo Glauco Ulson, analista junguiano, é comum encontrarmos na história de vida desses últimos um sentimento de distanciamento entre seus familiares. A família de origem destes costuma ser fragmentada e/ou sofrer constante ameaça de desmembramento, sendo que o indivíduo, quando criança, vivencia essa realidade familiar com ansiedade, angústia e depressão. A comunicação entre os pais e esses indivíduos geralmente se apresentou de forma insatisfatória, gerando grande insegurança e, a partir disso, um tipo de personalidade insegura e imatura em que o medo está quase sempre presente. Muitas vezes esses pais, ou cuidadores, também eram inseguros, fóbicos e ansiosos, transmitindo aos filhos a ideia de um mundo cheio de perigos e ameaças. Há o medo do abandono e, junto a este, atitudes superprotetoras por parte dos pais ou de um deles.

Ainda segundo Ulson, pessoas com transtorno de ansiedade e do pânico manifestam grande insegurança perante situações desconhecidas desde pequenos. São pessoas que procuram se defender de tudo, mantendo tudo sobre exagerado controle, evitando expor-se ao novo e ao imprevisto. Têm uma personalidade rígida e dependente, buscando proteção em pessoas mais velhas e seguras. Tentam evitar a todo custo a separação de tais pessoas a fim de se protegerem de situações de abandono ou solidão.

São indivíduos que geralmente apresentam pais fracos, distantes ou ausentes; violentos ou temperamentais; o que teria dificultado a integração, no individuo, dos aspectos relacionados a segurança, firmeza, proteção e poder (aspectos do Arquétipo Paterno Positivo, presente em homens e mulheres). A não integração desses aspectos faz com que essas pessoas se sintam impotentes, medrosas e incapazes de lidar com conflitos porque lhes faltam coragem, força e firmeza.

Essas pessoas necessitam do apoio e da energia feminina do Arquétipo da Grande Mãe (presente em homens e mulheres), mas, ao mesmo tempo, têm ódio e temor por essa situação. Isso, pois o indivíduo deseja ser nutrido e protegido, mas teme a opressão, a castração e a estagnação (todos esses aspectos presentes no Arquétipo da Mãe).

Às vezes pessoas com essas características desenvolvem uma “persona”, uma máscara que esconde seus reais traços de fraqueza e vulnerabilidade, mostrando-se aos outros (e muitas vezes para si mesmas!) como extremamente fortes, seguras, determinadas, com grande capacidade de ação. Mas, basta surgir uma situação um pouco mais difícil para que essa máscara caia e as fraquezas apareçam. É fundamental, ao nos depararmos com crises de pânico e ansiedade, olharmos de forma profunda para os diversos aspectos de nossa personalidade e de nossa história. A psicoterapia auxilia o indivíduo nesse percurso. Um percurso muitas vezes dolorido, mas, se percorrido com empenho e com o apoio adequado, é extremamente transformador, recompensador e tranquilizador.

Continue a Leitura >> Parte III

Trilogia do Pânico e Ansiedade Parte III: pânico através da integração dos instintos à consciência

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Os gregos acreditavam que tudo apresentava lados positivos e negativos. Assim também era o Deus Pã. Conscientes dessa dualidade, eles viam nele a ameaça da dissociação e fragmentação, mas também seu aspecto unificador e propiciador da vivencia totalizadora.

A vida instintiva das pessoas com transtorno de ansiedade e do pânico pode ser vista como fonte de prazer, mas repleta de ameaças e perigos. Por esse motivo, elas negam e reprimem seus desejos. Muitas vezes esses impulsos instintivos ficam sufocados, escondidos por de baixo do tapete, por muito tempo. Noutras situações, esses impulsos emergem de forma repentina e explosiva, são situações em que o indivíduo não consegue mais controlá-los e eles “tomam conta” da pessoa momentaneamente.

Com medo dos nossos instintos, muitas vezes desenvolvemos capacidades intelectuais, racionalizamos tudo em nossas vidas, até nossos afetos e emoções. Mas, feliz ou infelizmente (para alguns), é impossível erradicar completamente nossos instintos.

Quando reprimimos exageradamente nossos instintos uma grande instabilidade psicológica é constelada, pois perdemos o contato com nós mesmo, com nossa essência. Começamos a viver uma vida que não é nossa, que não é autentica, que é artificial, superficial e mecânica. É nesse estado de desconexão com nós mesmos que muitas vezes ocorre uma crise de pânico: é o Deus Pã tentando reestabelecer o equilíbrio perdido; é o Deus Pã “gritando”, buscando trazer para consciência e para nossa vida aspectos importantes nossos que estamos sufocando e negando por medo de encará-los (leia na parte II a respeito do mito do Deus Pã).

Como já foi dito antes, a crise de pânico pode ser a oportunidade para reformularmos uma vida, ou aspectos dela, que se encontra estagnada. A crise de pânico pode ser um pedido de socorro, pode ser nossa “alma” exigindo uma reformulação.

Da mesma forma que nossa cultura transformou Pã em demônio (desde o inicio do cristianismo Pã esteve identificado com o demônio, perdendo todo seu lado positivo), nós, individualmente, transformamos alguns de nossos instintos em demônios. E quando estes tentam emergir, nós o enxergamos como fobias, pesadelos e crises de pânico.

Temos medo, receio de não darmos conta de lidar com nossos instintos. Mas é fundamental olhá-los de frente e integrá-los, de alguma forma, no nosso dia a dia, se não completamente, pelo menos em parte.

Como a psicoterapia analítica pode ajudar os indivíduos com Crise de Ansiedade e Transtorno do Pânico

As crises de pânico costumam coincidir com fases de transição para uma nova etapa da vida, a qual exige de nós reações diferentes daquelas que, até então, vinham sendo utilizadas.

Durante as crises de pânico o indivíduo se vê envolvido por um verdadeiro caos de emoções, sendo o medo da morte, da psicose ou do suicídio muito presente.

Nas crises de ansiedade e pânico, nossas fantasias e medos (mesmo para aqueles que sabem de sua origem interna) são sentidos como reais. Nossos órgãos sensoriais reagem a elas como se fossem reais, emocionalmente estamos diante de um tigre faminto e feroz, mesmo que esse “tigre” seja, para um professor recém-formado, dar sua primeira aula ou, para um garoto de 18 anos, assumir para si mesmo sua homoafetividade.

A psicoterapia profunda auxilia o paciente a lidar com essas emoções muito violentas que afloram durante ou logo antes das crises de ansiedade e pânico. Busca-se, junto com o paciente, mantê-las em “fogo brando” para, lentamente e de forma segura, elaborá-las. O ego, centro da consciência do indivíduo, deve ter tempo e apoio para elaborar e integrar os instintos a muito tempo reprimidos, por medo, pelo indivíduo.

O psicoterapeuta deve dar continência e o amparo necessário para a livre expressão das emoções do paciente, aliviando a pressão dos temidos conteúdos irracionais e inconscientes.

É fundamental confrontar-se com tais conteúdos, compreender seus significados e integrá-los na consciência. É importante observarmos nossos medos, nossa ansiedade: que parte de mim está com medo? Medo de que parte minha? Olhar e compreender esses conteúdos facilita a resolução dos conflitos (consciente versus inconsciente), reduzindo o medo, a angústia, a necessidade de controle e o pânico.

Burnout, a vida em curto-circuito

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É comum vermos homens e mulheres que se dedicam mais ao trabalho do que à vida pessoal. O que não deve ser considerado grave, se esta escolha foi feita de forma consciente e se não acarretar problemas para o emocional, para o físico e para o mental.

Porém, há um grupo de pessoas que trabalham com tanta intensidade que alguns sintomas indesejados começam a aparecer impedindo que atividades simples sejam executadas. Muitas vezes, esses sintomas podem indicar um diagnóstico para a síndrome do esgotamento profissional, mais conhecida como a Síndrome de Burnout.

Difícil de ser identificada, muitas pessoas buscam respostas em vários profissionais da saúde, mas acabam não tendo um diagnóstico fechado. Com isso, elas ficam meses (ou anos) sem solução para um problema que atrapalha muito o seu dia a dia.

Para entender um pouco mais sobre esta doença adquirida na rotina desgastante do trabalho, continue a leitura deste artigo, onde apresento mais detalhes sobre o tema.

Para começar: O que é Burnout?

O Ministério da Saúde define a Síndrome de Burnout como um distúrbio emocional. O principal motivo para o seu desenvolvimento são as situações de trabalho desgastantes em que o profissional se depara diariamente: pressão excessiva, competitividade e alta responsabilidade.

As pessoas que sofrem com essa Síndrome costumam relacionar-se negativamente com o seu desempenho profissional, criando uma avaliação negativa de si mesmo. É comum, nos casos de Burnout, que a autoestima do indivíduo esteja estritamente ligada a percepção que ele tem de sua capacidade de realização e sucesso no trabalho.

Quando a satisfação e o sucesso profissional não são alcançados e quando seu desempenho não é reconhecido, seu desejo de conquista e reconhecimento transformam-se em obstinação e compulsão. A partir de então, o indivíduo passa a não perceber e respeitar seus limites físicos e psíquicos, gerando fadiga, ansiedade, exaustão, confusão mental, sofrimento psíquico, baixa autoestima, nervosismo e diversos problemas físicos (como dores de cabeça, insônia, tensão muscular etc.).

Em casos avançados dessa síndrome, o indivíduo pode chegar a ter um
colapso físico e mental, “queimar por completo” e, em alguns casos, cometer suicídio ou ter morte não intencional.

Workaholic e Burnout: saiba diferenciá-las

É possível afirmar que o workaholic pode desenvolver a Síndrome de Burnout, mas que nem todos que a desenvolvem são workaholic.

Para entender melhor a relação, apresento a definição de workaholic como a de alguém que sente prazer em desenvolver o seu trabalho, mesmo que seja necessário renunciar a suas atividades pessoais para isso. Muitas vezes essa dedicação elevada à vida profissional pode trazer prejuízos, mas não necessariamente.

Para os que possuem essa característica, é uma escolha se dedicar às atividades profissionais e eles se sentem motivados para fazê-las.

Qual a relação do nosso contexto econômico-social e a Síndrome de Burnout?

Os processos de trabalho e de produção sofreram grandes mudanças a partir da terceira Revolução Industrial ou Revolução Tecnológica (meados do século XX) e da crise econômica dos anos 1980 e 1990: as estruturas organizacionais e os postos de trabalho ficam mais enxutos, há mais agilidade nos processos, as relações de trabalho tornam-se mais eficazes para atender a demanda de um mundo mais rápido; valoriza-se cada vez mais o desempenho eficiente, a superação, a competitividade e o sucesso.

Nesse contexto social e laboral, observamos um aumento muito significativo de doenças crônicas ligadas ao estresse e ao mundo do trabalho. Entre elas, cujo número de casos vem aumentando de forma galopante nas grandes cidades, temos o Burnout, síndrome do esgotamento profissional, que vem interferindo de forma brutal no trabalho, nas relações pessoais e amorosas e na qualidade de vida dos indivíduos acometidos por esta.

Quais os principais sintomas da Síndrome de Burnout?

O principal sintoma da Burnout é o estresse e aconselha-se prestar atenção nos seguintes sintomas:

  • Cansaço excessivo, físico e mental.
  • Dor de cabeça frequente.
  • Alterações no apetite.
  • Insônia.
  • Dificuldades de concentração.
  • Sentimentos de fracasso e insegurança.
  • Negatividade constante.
  • Sentimentos de derrota e desesperança.
  • Sentimentos de incompetência.
  • Alterações repentinas de humor.
  • Isolamento.
  • Fadiga.
  • Pressão alta.
  • Dores musculares.
  • Problemas gastrointestinais.
  • Alteração nos batimentos cardíacos.

Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e podem se agravar com o passar do tempo. Por isso, se você se identificou até aqui ou se tem alguém próximo que suspeita estar com a Síndrome de Burnout, busque ajuda de um profissional o mais rápido possível. Quanto antes a doença for diagnosticada, mais rápido e mais eficaz pode ser o tratamento.

O que fazer para evitar a Burnout?

O ideal para não se tornar vítima dessa doença é ter uma vida equilibrada, adotando estratégias para reduzir o estresse.

Trabalhar é algo que todos precisam, porém é necessário equilíbrio para viver todos os aspectos da vida e, também, buscar prazer em outras coisas que tragam satisfação, como por exemplo:

  • Fazer atividades com a família e com os amigos;
  • Encontrar uma atividade prazerosa que possa se tornar rotina. Exemplo: fazer academia, correr, pedalar, dançar, cozinhar, pintar, ler, cantar etc.;
  • Celebrar pequenas vitórias, tanto da vida profissional quanto da vida pessoal;
  • Fugir da rotina; Inovar;
  • Se conhecer e se reconhecer diariamente.

Para evitar o estresse que pode levar à Burnout é preciso ter consciência de que existe vida e reconhecimento fora das obrigações profissionais.

Como identificar a Síndrome de Burnout?

Os profissionais adequados para identificar e tratar essa doença são psicólogos e psiquiatras.

Muitos pacientes passam meses ou até mesmo anos até identificar que sofrem com essa doença, porque costumam focar apenas nos sintomas do corpo: indisposição, cansaço, dor de cabeça. Mas, somente com uma análise clínica feita pelos profissionais que cuidam da mente, a Síndrome poderá ser identificada.

Como é feito o tratamento da Síndrome de Burnout?

A Burnout é tratada com psicoterapia, mas também pode ser necessário o tratamento com medicação antidepressiva e/ou ansiolíticos e/ou terapias complementares, como meditações, acupuntura etc.

Na psicoterapia várias questões começam ser abordadas junto ao paciente. Geralmente o indivíduo em colapso mental e físico chega questionando-se sobre o que ele fez de errado. Esta questão deve ser investigada, claro, mas é importante que terapeuta e paciente também se debrucem sobre outras questões, como: “o que eu fiz de certo?”, “quando foi que eu estava mais equilibrado?”, “quando comecei a perceber alguns dos sintomas de Burnout?”, “que coisas que eu fazia ou faço e que me fazem bem?”.

Processos psicoterapêuticos que incluam o trabalho corporal visando a diminuição do estresse, conjuntamente com o trabalho de autoconhecimento, são muito eficazes. Leia sobre Calatonia
– trabalho corporal realizado no processo psicoterapêutico, muito eficaz nos
tratamentos de burnout e estresse.

Para que haja sucesso no tratamento, além das sessões de psicoterapia que serão conduzidas de acordo com a necessidade do paciente, o terapeuta pode recomendar o afastamento do trabalho e, também, a adoção de um novo estilo de vida. Esse novo estilo pode envolver férias, novas atividades (como exercícios físicos) e a aproximação de amigos e de familiares.

É possível perceber melhora nos sintomas após um período de 1 a 3 meses, podendo variar de acordo com o paciente. Se você precisa de mais informações sobre esse assunto, entre em contato comigo.

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