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Yara Kilsztajn

Psicóloga Junguiana, especialista em Psicoterapia Corporal e Orientação Vocacional/Profissional.

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Casamento: Encontros e Desencontros – Parte 2

A Origem dos conflitos

Os conflitos conjugais podem ter origem na própria relação, sendo desencadeados por situações mais ou menos recentes, como fatores de ordem econômica, mortes, doenças ou da modificação natural das personalidades de cada um, antes o casal podia ter um sonho em comum, depois os interesses podem ter mudado, e cada qual querer caminhar em direções opostas. Por exemplo, um casal podia ter como sonho em comum casar, constituir uma família, comprar uma casa própria ou viajar pelo mundo; depois de realizado esse sonho e de decorrido alguns anos, talvez um deles esteja buscando uma vida espiritual e o outro, em contrapartida queira investir tempo e dedicação em um empreendimento para ganhar muito dinheiro… essa divergência, esses sonhos não compartilhados, podem gerar um conflito na relação.

Os conflitos conjugais também podem estar relacionados com feridas antigas, provenientes de sofrimentos de quando crianças (ou mesmo bebes), de traumas e/ou de experiencias mal elaboradas de relacionamentos anteriores. Podemos nos tornar altamente sensíveis e/ou tiranos quando tocados nas nossas feridas mais antigas.

É necessário discriminar a origem do sofrimento atual, a sua raiz. Muitas vezes o casamento, através do desenvolvimento da dependência mutua dos parceiros, reinstala, em graus variados, ansiedades, medos e uma enorme gama de emoções relacionadas a esse passado não bem resolvido. Um homem que foi abandonado ou sentiu-se pouco cuidado pela mãe, por exemplo, pode ser tocado nessa ferida sempre que sua mulher quiser sair sozinha com as amigas: ele, inconscientemente tomado pela angustia do abandono/não cuidado do passado, projeta na mulher alguém que o está abandonando/não cuidando dele, não conseguindo ver que ela está, ao menos nesse caso, apenas fazendo um programa com as amigas (e não abandonando ele). Quando trazemos isso para consciência, podemos trabalhar e transformar a forma de vermos a relação, nós mesmos e nosso parceiro.

Amar é dar ou receber? Adultos ou bebês?

Geralmente encontramos casais em que cada um quer receber mais, e acha que já dá o suficiente. Como diz a psicoterapeuta de casais Gilda Montoro, “na teoria, amar é dar; na prática – o funcionamento do nosso piloto automático inconsciente, amar é receber.”

Um dos motivos disso acontecer é por persistir, na consciência coletiva da conjugalidade ocidental moderna, o desejo saudoso de ocupar o lugar de filho(a) – amado(a) incondicionalmente – e projetar no cônjuge uma mãe perfeita, que nutre completamente o parceiro(a) de coisas boas e remove as coisas ruins do dia-a-dia. Ou seja, espera-se que o outro dê suporte emocional, atenda nossas necessidades físicas, entenda nossos pontos de vista, traga alegria quando estivermos tristes, não nos deixe ficar com raiva etc. E, ao mesmo tempo, sentimos que o simples fato de existirmos para ele já é suficiente ou, dito de outra forma, “eu já faço tanto por ele, já abdico de tantas coisas pela relação”.

É importante que cada indivíduo faça a “passagem” de filho(a) para adulto. Desta forma eles podem, juntos, construir uma relação conjugal baseada no respeito mútuo; abrindo espaço para cada um desenvolver seu próprio potencial e criando uma troca saudável e criativa entre ambos.

Projeção: quando jogamos no parceiro nosso lado desconhecido

O parceiro projeta no seu amado muito daquilo que é seu, do seu interior, da sua sombra. Ele projeta aquilo que não consegue ver em si mesmo, aquilo que está, naquele momento, inconsciente, inacessível à sua consciência. E, assim, o amado recebe as projeções, dos anjos e dos demônios internos do parceiro, impactando profundamente a relação. Lembrando que essas projeções são de mão dupla, um sempre projeta no outro o que não consegue ver em si mesmo. Por isso Jung nos diz que nosso cônjuge é nosso espelho.

Geralmente o cônjuge que carrega a imagem projetada acaba sendo levado de um extremo ao outro: em alguns momentos é supervalorizado, noutros, subvalorizado; e, como consequência, a realidade humana dele fica distorcida. Muitas vezes, um aspecto da nossa personalidade que não suportamos em nós mesmos é projetado no outro e, ao vermos essa parte tão “feia” e “repulsiva” no cônjuge, acabamos por atacá-lo.

Por exemplo, uma mulher que tem um lado egoísta extremamente reprimido (por ter aprendido com os pais que esta não é uma característica bem quista e que pode ser punida se assim for) pode projetar esse aspecto no seu marido e ver, em todos os atos dele, algo de egoísta, passando a acusá-lo diariamente: “você não lavou o meu prato porque só pensa em você!”, quando o marido não lavou o prato por estar atrasado para pegar os filhos na escola. Esse marido pode ou não ser muito egoísta, um pouco egoísta todos nós somos. Muitas vezes, ao receber tamanha projeção (ouvir todos os dias que é egoísta) ele pode chegar a acreditar que realmente o é. E, a mulher, realmente acredita que ele seja extremamente egoísta, não desconfiando que, muito desse egoísmo que vê nele, é seu, uma projeção do seu lado egoísta reprimido e inconsciente.

As projeções podem exercer tamanho domínio sobre a personalidade de quem as recebe, que, nesse caso, por exemplo, o marido pode ser levado a corresponder inconscientemente a essas projeções, tendo cada vez mais atitudes egoístas a fim de “atender” a expectativa (também inconsciente) da esposa.

A força da imagem projetada tem efeito perturbador, tanto para o individuo que faz a projeção quanto para aquele que recebe. O caminho que essa projeção percorrerá no casamento é que determinará uma evolução criativa ou não para a relação.

Quando as projeções são maciças e o casal tem pouco autoconhecimento, os parceiros ficam fechados às possibilidades de descobrir e sentir quem eles realmente são para eles mesmos e para o outro. Nesses casos, a terapia de casal pode ser fundamental para o casal, ajudando-os a discriminar o que é projeção e o que é realidade, o que é de um, o que é do outro; promovendo, assim, autoconsciência, clareza na relação e amenizando os conflitos.

Casamento ideal versus casamento real: quando a imagem do casamento perfeito atrapalha

Esperamos muito do Casamento. Exigimos que ele nos preencha completamente, buscamos encontrar o sentido das nossas vidas no casamento. Antigamente, era mais comum buscarmos esse preenchimento, esse sentido de vida, na religião, na maternidade, na família, no trabalho, na meditação etc. e não só no casamento. Esperar tanto do casamento pode agravar os problemas conjugais, já que as expectativas colocadas nele são impossíveis de serem realizadas.

A imagem do casamento puramente feliz causa grande dano. Casamento consiste de sacrifícios, alegrias, sofrimento, constante reconstrução e, para aqueles que realmente mergulham nele, traz uma profunda satisfação existencial.

*Por “casamento”/“relacionamento conjugal”, estou chamando todo e qualquer relacionamento afetivo entre duas (ou mais) pessoas que escolhem conviver juntas, compartilhando a vida, como companheiras de jornada. E isso independe de registro civil, celebração/benção religiosa ou moradia em conjunto.

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