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Yara Kilsztajn

Psicóloga Junguiana, especialista em Psicoterapia Corporal e Orientação Vocacional/Profissional.

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Jovens Transgêneros: a questão da identidade de gênero na adolescência

A adolescência é considerada a fase de transição da infância para a vida adulta. Neste período, o perfil padrão dessas “crianças” (na sociedade ocidental contemporânea) costuma ser o de não aceitar o que é imposto, mas também o de não poder decidir, pois ainda dependem dos pais.

Várias questões surgem nesse período: o desejo de mostrar uma personalidade forte e independente; o entendimento dos problemas do mundo e dos problemas familiares e, principalmente, a sensação de não ser compreendido.

A não compreensão dos outros e o sentimento de não ser compreendido pode ser um reflexo de uma não compreensão de si mesmo. Isso é comum na adolescência e o surgimento de algumas perguntas específicas podem indicar uma crise de identidade: quem eu sou? Eu me identifico com o que eu vejo no espelho? Eu me aceito como eu sou?

Crise de identidade na adolescência

Na adolescência o individuo começa a se perguntar quem ele é, do que gosta e o que quer. Na busca por essas respostas, os jovens geralmente se entregam a muitas e diversas experiências… é comum encontrarmos jovens que mudam frequentemente de opinião, de grupo e de tudo mais que for possível. Eles estão experimentando diferentes modelos e formas de ser e viver para, assim, encontrar quem são.

Até a adolescência, o mundo deles era geralmente aquele moldado pelos pais: a casa, a escola, os passeios, os amigos… geralmente todos escolhidos de acordo com os valores, princípios e formas de viver dos pais.

Na adolescência o jovem começa a ver o mundo além dos muros de sua casa familiar, eles expandem seus horizontes e deparam-se com mundos novos, seja nos livros, na internet, nas ruas ou mesmo dentro de seu próprio ser (que agora começa a se diferenciar significativamente da forma de ser e pensar de seus pais). Nessa trajetória de autoconhecimento, a identidade de gênero, bem como a orientação sexual, vem se tornando uma questão cada vez mais frequente.

Afinal, o que significa identidade de gênero e indivíduo trans?

Tradicionalmente, a questão de gênero é tratada considerando apenas homens e mulheres cisgêneros (“cis”): indivíduos que nascem com a genitália masculina e se identificam como homens e indivíduos que nascem com a genitália feminina e se identificam como mulheres. Ou seja, cisgêneros são pessoas cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído ao nascer a partir de suas características físicas biológicas. E, identidade de gênero é como o indivíduo se reconhece, se vê, se sente e se define – homem ou mulher.

Porém, quando falamos hoje da questão de gênero, estamos ampliando o conceito tradicional já que o mundo contemporâneo vem se tornando cada vez mais inclusivo. Aqui, apresentamos o termo transgêneros (“trans”). A ele definimos como indivíduos que possuem uma identidade de gênero diferente do sexo em que nasceram. Simplificando: o corpo e a mente não estão sintonizados.

Desse modo, uma pessoa que possui o sexo biológico masculino, mas a sua identidade de gênero é feminina, a chamamos de mulher trans. Se alguém que nasce com o sexo biológico feminino, mas a sua identidade de gênero é masculina, ele é chamado de homem trans.

Ressalta-se aqui que alguns indivíduos transexuais buscam procedimentos de redesignação do sexo, incluindo intervenções cirúrgicas e tratamentos hormonais. Nem todos buscam tais medidas, elas não são um requisito para o reconhecimento da identidade de gênero, elas podem ou não fazer parte da transição física de transexuais e transgêneros.

Os termos que ajudam a entender essa questão

Para que você compreenda que a identidade de gênero não é uma caixinha fechada, é necessário conhecer os termos que causam dúvidas aos iniciantes. Veja-os abaixo:

  • Orientação sexual – é utilizado para caracterizar se a pessoa se considera heterossexual (se relaciona com alguém de gênero diferente); bissexual (se relaciona com pessoas de ambos os gêneros), homossexual (se relaciona com pessoas do mesmo gênero) ou assexual (não se relaciona sexualmente, não tem interesse sexual).
  • Sexo biológico – refere-se aos cromossomos e à genitália que a pessoa nasce. Ele que define se o bebê esperado é homem ou mulher. Esse termo abarca ainda a classificação intersexo que representa a genitália que não tem características específicas nem masculinas nem femininas (como os hermafroditas, por exemplo).
  • Expressão de gênero – representa dois aspectos:

1. o que a sociedade definiu como uma apresentação feminina ou masculina. Sendo assim, na cultura brasileira, o comum é que mulheres usem vestidos, saias, maquiagem etc. E que os homens usem calças, bermudas, camisas regatas, terno e gravata etc. Exemplos clássicos e tradicionais hoje já considerados ultrapassado por muitos são: quarto rosa, boneca e batom para meninas; quarto azul, bola de futebol e carro para meninos.

2. Como escolhemos nos mostrar para o mundo. Isso inclui uma quebra dos padrões impostos. Logo, o padrão de apresentação que a sociedade construiu não é seguido. As pessoas se apresentam como elas gostam e se sentem à vontade. Válido destacar que esse rompimento não se restringe a pessoas transexuais, mas está muito associado a eles, sobretudo, no início da transição.

Conhecer esses termos é fundamental para entender as dúvidas pessoais (para os que estão se descobrindo trans) e para aqueles que convivem com pessoas que estão passando pela transição.

Identidade de gênero e adolescência

Com a internet muitas pessoas têm encontrado respostas para perguntas nunca respondidas. Por isso, não se deve considerar que o adolescente está embarcando em uma modinha ou está se deixando levar por algo que leu. Ele pode simplesmente ter encontrado uma resposta simples para uma batalha interna que nem ele sabia que estava vivendo.

Embora se fale muito na palavra empatia, às vezes, é difícil criar esse ambiente entre os nossos familiares. Então, o primeiro passo para ajudar o adolescente a entender esse processo é escuta-lo, é se colocar no lugar dele, é não o julgar e tentar ser um porto seguro nos momentos de conflito. Se ele não encontrar isso em casa, dificilmente encontrará em outro espaço.

E é fundamental também a empatia para com os familiares que estão tendo que lidar, pela primeira vez e sem “repertorio social”, com a transgeneridade. Social e culturalmente essa é uma questão muito nova no mundo ocidental contemporâneo e geralmente muito desafiadora para a geração dos pais, tios, avôs, professores, patrões etc. dos jovens trans. Lembrando que ter empatia não é concordar com a visão, postura e comportamento do outro, mas entende-lo a partir do ponto de vista desse outro. Pais e filhos precisam de um espaço para serem ouvidos e acolhidos em seus conflitos e angustias.

> Como ser pais nos dias atuais (abre numa nova aba)”>Leia também >> Como ser pais nos dias atuais

É no espaço de escuta empática e não julgadora que podemos entender e conviver melhor com o outro, que às vezes pensa, sente e é muito diferente de nós. Não é um tema fácil, uma interação fácil, uma comunicação fácil. É, antes de tudo, um desafio não só individual e familiar (entre pais e filhos), mas coletivo (das instituições, como escolas e locais de trabalho por exemplo, e dos valores morais sociais).

Importante dizer que a identidade de gênero é uma questão que se apresenta fortemente ao individuo na adolescência, mas não é só nessa fase da vida. Estudos apontam que esta questão pode aparecer ao indivíduo em qualquer momento, seja aos dois anos de idade, no final da primeira infância (por volta dos 6 anos), na vida adulta ou na velhice.

O encontro consigo, a paz com o espelho

A maioria das pessoas trans, mesmo aquelas que ainda não tem essa resposta clara, costumam não aceitar o que veem no espelho e não possuem uma relação de paz com a mente. Por isso, é importantíssimo que esses jovens, e também suas famílias, tenham um acompanhamento com um especialista para que eles sejam ajudados a ter um encontro puro e verdadeiro com a sua essência. A partir disso, ele estará preparado para encarar o tradicional e ser quem ele é realmente é.

Dinamismo masculino e feminino: um pouco da teoria psicológica junguiana

Segundo a Psicologia Analítica de Jung, ser masculino não é propriedade do homem, mesmo sendo ele que reúne, na visão contemporânea até aqui, mais condições biológicas, psicológicas e socioculturais de intimidade com esse princípio. O mesmo podemos dizer do principio feminino. Trata-se de um dinamismo presente tanto no homem, quanto na mulher.

Segundo Murray Stein, psicoterapeuta junguiano consagrado, “Masculino e Feminino são qualidades da personalidade humana comuns a ambos os sexos. Porém a natureza do homem tende a ser mais arraigada num espirito Fálico, enquanto a da mulher tende a emergir de um espirito Uterino”.

Importante deixar claro aqui quais são as “características” do feminino e do masculino na visão junguiana. O feminino (o Yin; segundo a doutrina do Tao, ou “espirito Uterino”,) está relacionado, entre outras coisas, com natureza, instinto, emoções, união, relacionamento, contato, fusão, Eros; gestante, receptivo, doação, contenção, apoio; materno doador, materno devorador.

E o masculino (Yang, ou “espirito Fálico”) está relacionado com discernimento, espírito, ordem, abstração, impulso para ação, agressivo, combativo, desafiador; reflexão, consciência, discriminação, cognição, disciplina, lei, abstração, logos.

Podemos questionar a visão de que a “natureza” do homem é ser mais fálica (e a da mulher uterina): será mesmo uma questão de natureza? Mas aqui não quero me ater a isto (quão natural ou quão cultural é), mas sim ao fato de que homens e mulheres apresentam os dois princípios (masculino e feminino) e ao fato de que nossa sociedade geralmente atribui o princípio masculino ao homem e o feminino à mulher.

Tanto o homem como a mulher têm em si um lado feminino e um lado masculino, ambos importantíssimo ao indivíduo. Lidar de forma equilibrada com esses dois aspectos internos é essencial para uma vida completa e saudável. Quando um desses aspectos é negligenciado, podemos observar comprometimentos na personalidade, nos relacionamentos afetivos e na forma do indivíduo lidar e estar no mundo.

Estamos tão impregnados dos valores coletivos patriarcais que entendemos os modelos culturais de conduta de homens e mulheres como a verdadeira natureza dos mesmos. Podemos ter nascido homem ou mulher, nos identificarmos como homem ou mulher, mas todos temos dentro de nós o princípio masculino e o princípio feminino, os quais precisamos conhecer e nos relacionar de forma inteira e acolhedora.

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