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Yara Kilsztajn

Psicóloga Junguiana, especialista em Psicoterapia Corporal e Orientação Vocacional/Profissional.

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TRILOGIA – O CURADOR INTERNO E O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO PARTE I: O QUE É SAÚDE, DOENÇA E CURA?

Como o psicólogo auxilia o indivíduo a ter uma vida saudável?

Primeiro é importante deixar claro que o psicólogo não cura, ele auxilia o indivíduo a acessar o seu curador interno. E isso acontece através do autoconhecimento.

“O doente procura um médico ou doutor externo, mas o fator intrapsíquico, ou ‘fator curador’, ou ainda o ‘médico interior’ é também mobilizado. Mesmo o médico externo sendo muito competente, as feridas e doenças não poderão ser curadas se não houver a ação do ‘médico interior’” (Groesbeck).

O que é saúde, doença e cura?

Apresento aqui minha visão como psicoterapeuta, ancorada na psicologia analítica de Jung e na saúde integrativa.

Entendendo o indivíduo como um todo que inclui corpo, mente, psique e alma/espirito; e saúde como a capacidade do indivíduo de se auto cuidar; pode-se inferir que autoconhecimento, auto responsabilidade, qualidade de vida, resiliência e conexão com o espiritual são pontos importantes para promoção da saúde integral do indivíduo. Ressalta-se que “espiritual/espiritualidade” é entendida aqui como aquilo que fala do significado e do proposito de vida para cada um, algo individual que pode ou não incluir a crença de um deus/deuses. Pode ser o trabalho, a família, conhecer novas culturas, pintar, seguir os valores e ensinamentos de sua religião etc. Quando a vida tem um proposito, um sentido, o indivíduo busca cuidar de si.

Para Jung, o indivíduo saudável é aquele que está em busca do desenvolvimento, do realizar-se, integrando-se ao todo, transmutando e transcendendo. Quando não há movimento, quando a energia não flui, temos um indivíduo doente. E é fundamental que o indivíduo se engaje no seu próprio processo de cura, por isso o curador (psicoterapeuta) deve auxiliar o paciente a encontrar seu “curador interno”.

Ainda segundo Jung, “todos os maiores e mais importantes problemas da vida são de certa forma insolúveis. Eles precisam sê-lo, por expressarem a necessária polaridade inerente em todo o sistema autorregulador. Eles nunca podem ser resolvidos, apenas superados… Essa ‘superação’… em experiências mais aprofundadas percebeu-se que consiste em um novo nível de consciência. Algum interesse superior ou mais amplo surgiu no horizonte da pessoa, e, mediante o alargamento da sua visão, o problema insolúvel perdeu sua urgência… O que, visto de um nível mais baixo, havia levado aos mais terríveis conflitos e a explosões emocionais assustadoras, visto de um nível mais elevado da personalidade, parece uma tempestade em um vale vista do topo de uma montanha. Isso não quer dizer que a tempestade foi privada de sua realidade, mas em vez de estar dentro, o sujeito agora se encontra acima dela”.

Marion Woodman, psicoterapeuta junguiana mundialmente conhecida, diz que além de buscar causas e explicações psicopatológicas às nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, amar a nossa “alma”, amar o nosso eu mais profundo, amarmo-nos assim como somos. Ela fala que é a partir do desenvolvimento do “amor próprio” que poderemos reconhecer que nossas feridas e sofrimentos nasceram de uma falta de amor. Nossas feridas e sofrimentos e nosso amor próprio acabam por nos revelar que a “alma” se orienta para um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade, nosso eu profundo, para a realização de nossa totalidade. A nossa própria vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa unidade primeira.

A visão sistêmica encara a saúde em termos de processo continuo, com atividades e mudanças continuas, refletindo a resposta criativa do organismo aos desafios ambientais. Dentro da concepção integrativa e sistêmica de saúde, o autoconhecimento é ponto essencial para o desenvolvimento de uma vida saudável. Ressaltando que a relação com os outros, nesta concepção, são parte intrínsecas do autoconhecimento.

Quando há uma dor no corpo, as suas vibrações são sentidas na “alma” e se a “alma” está adoecida então as vibrações chegarão ao nível do corpo. A pessoa doente é alguém que desenvolveu bloqueios entre ela mesma e sua energia vital. É função do curador, do psicoterapeuta, por exemplo, auxiliar o indivíduo a se reconectar com sua energia vital e a integrá-la de forma consciente no seu dia-a-dia. O curador não pode fazer absolutamente nada além de auxiliar.

Fontes, coordenadora do Curso de Cuidados Integrativos da UNIFESP, também compartilha dessa ideia ao falar sobre o paradigma “Salutogênico” (foco na habilidade e não na deficiência) como aquele que utiliza-se operacionalmente do “Senso de Coerência” (habilidades de mobilizar recursos da força, resistência, potência e capacidade de enfrentamento mediante situações adversas inerentes à vida) e que comunga a ideia de que ninguém cura, de que todos podem ser apenas facilitadores, ou, infelizmente, inibidores do processo de cura, e de que somente o individuo tem o poder de curar a si mesmo.

O autoconhecimento é fundamental no processo de cura, pois traz ao indivíduo a consciência de como ele está, quais seus recursos e suas fraquezas, o que lhe faz mal e o que lhe faz bem… para que, assim, ele possa escolher seu caminho e curar-se.

“Tenho uma razoavel certeza de que podemos mostrar a uma pessoa o que existe, mas não podemos lhe dar aquilo que ela deve fazer […]. Não haveria dificuldade na vida se a pessoa sempre soubesse de antemão como fazer uma coisa. A vida é uma especie de arte, e não uma estrada reta ou um produto pronto que se pode encontrar em cada esquina […] Ninguém pode vivê-la por você ou em seu lugar. Sua vida é aquilo que você tenta viver. Se eu precisasse fazer você passar por alguma coisa, seria a minha vida e não a sua” (Jung).

Na individuação busca-se o todo, busca-se integrar as várias partes de si. E esse desenvolvimento sempre começa com o confronto moral do indivíduo/ego com as características que ele não aceita sobre si mesmo, características que o indivíduo não quer que chegue a sua consciência (sua sombra).

Vale ressaltar que enquanto o indivíduo não estiver pronto, não se deve mexer: não se deve cortar o casulo da borboleta porque o esforço para rompê-lo é importante para estimular a transformação – se cortarmos o casulo de uma borboleta, ela não desenvolve a capacidade de voar! A pressa é inimiga da “alma”, e a perfeição é anseio do ego.

Desenvolver a consciência leva à individuação, a viver a vida em sua plenitude, entendendo que estar consciente de algo é a somatória da emoção, da vivência e do conhecimento intelectual, e não apenas deste último. O terapeuta deve, então, auxiliar o indivíduo a encontrar seu caminho a partir do autoconhecimento, caminho este que o levará em direção à completude, não à perfeição.

Fechando o texto, com as palavras do Jung, podemos dizer que o que dá sentido à vida é saber que você viveu sua própria vida, e não necessariamente a felicidade. Para ele, as dores com significado doem menos, pois sabemos que faz parte do nosso trajeto. A transformação do indivíduo está na passagem do problema, no suportar a tensão (dos opostos), e não na resolução do problema. E o terapeuta deve apontar para onde a energia pode ir (cura) e não apenas para onde a energia está superconcentrada (doença, complexos). Deve-se apontar o caminho, não apenas o congestionamento.

* Esse texto faz parte de uma trilogia:

– Parte I: O que é saúde, doença e cura?

– Parte II: Enfrentando o nosso bicho papão

– Parte III: Aprendendo a sentir, a mover e a relacionar-se

* Sugestão de filmes sobre o assunto:

– “Sete Minutos Depois Da Meia Noite” (Netflix)

– “Divertidamente”

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