Picture of Yara Kilsztajn

Yara Kilsztajn

Psicóloga Junguiana, especialista em Psicoterapia Corporal e Orientação Vocacional/Profissional.

Busque no BLOG

Pesquisar
Close this search box.

Como agendar?

Ficou interessado na Psicoterapia ou Orientação Profissional? Agende seu horário comigo e vamos conversar.

Covid-19 e seus desafios: O que é essencial para você na quarentena? Como lidar com as divergências dentro de casa?

Estabelecimentos essenciais são autorizados pelo governo a funcionar durante a quarentena. Mas, para além das opiniões de Dória, Bolsonaro, Mandetta e outros políticos brasileiros, o que é essencial para cada país, para cada família, para cada um?

Fechados entre algumas paredes, muitos se estranham e fazem da convivência uma guerra. Como resolver esses conflitos?

Bolsonaro acha que salão de beleza é essencial, Dória, não. Daniel acha que lavar os produtos recebidos pelo delivery é essencial, mas Ana não; para ela essencial é não pegar elevadores e subir as escadas como forma de proteção. Beatriz acha imprescindível visitar o namorado, sua mãe não. Gabriel acha fundamental correr na rua, Carlos discorda, diz que não podem ser vetores de transmissão do vírus, e nem se colocarem em risco por uma “corridinha à toa”, acrescentando um “seu egoísta!”

Para o governo francês, lojas de vinho, queijos e chocolate são essenciais; para os Alemães, essencial são também as livrarias. Quiosques de batata frita são essenciais na Bélgica; lojas de armas de fogo, essenciais nos EUA. Estabelecimentos dedicados à venda de produtos para drinques e algumas lojas de brinquedo são consideradas essenciais na Austrália. (matéria da revista Veja, 06/05/2020).

Supermercados e farmácias são considerados essenciais quase que de forma unanime, mas outros itens definidos como indispensáveis variam muito e geralmente estão atreladas à identidade cultural de cada nação. De forma análoga, o que é fundamental ou não para cada indivíduo está atrelado com sua história de vida pessoal, com suas vivências (positivas e negativas), seus modelos e seus valores familiares.

Muitos dos meus pacientes e amigos têm se queixado e relatado desentendimentos constantes entre eles e aqueles com quem convivem com relação ao que se pode ou não fazer, o que se deve e o que não se deve fazer durante a quarentena. E, não raras vezes, esses desentendimentos tomam dimensões enormes, gerando sofrimento para todos.

Exemplos de divergências e conflitos

Falas, semelhantes às exemplificadas abaixo, têm chegado constantemente aos meus ouvidos:

– “O chefe dele não o obrigou a ir trabalhar presencialmente, mas ele continua indo. Ele diz que se não for ‘pega mal’, que caso precisem despedir alguém, ele será o primeiro se estiver trabalhando de casa. Mas ele está me expondo ao virus, expondo nossos filhos. E, no fundo, acho que o que ele quer é ir lá conversar com os colegas de trabalho”.

– “Ela pode ir ver a mãe dela, diz que é importante porque a mãe, idosa, fica muito sozinha e pode desenvolver uma depressão. Mas eu não posso ir ver meus filhos adolescentes, que estão com minha ex-mulher. Ela fala que não sabe como estão se cuidando na casa dela e que seria um risco eu encontrá-los. São meus filhos, sentem minha falta e eu sinto falta deles… sou pai!”

– “Minha irmã diz que precisa ir ao mercado pessoalmente escolher as frutas e legumes, que quando entregam não chegam tão bonitas. Discordo, muita frescura, chega tudo muito bem, mas ok, relevo, não reclamo de ela ir lá num local que é fechado e cheio de gente. Eu preciso andar, correr, gastar energia, respirar um pouco de ar puro, se não enlouqueço. Mas ela não releva, se saio para caminhar, é ela que enlouquece, dizendo que estou colocando a vida da nossa família e de todos os cidadãos em risco. Ela é muito egoísta”.

Estes são exemplos de divergências que afetam direta e fisicamente o outro, mas também há questões de princípios e valores:

– Pagar ou não a escola de música das crianças, ou o salário da empregada doméstica, para não prejudicar o profissional envolvido, mesmo que não esteja realizando seu trabalho?

– Flexibilizar a quarentena “em prol da economia e daqueles que já passam fome por falta de trabalho” ou “priorizar a vida”?

– Permitir-se se divertir vendo um monte de séries, “lives”, lendo os livros clássicos que sempre faltou tempo para ler, aprendendo yoga e novas receitas ou dedicar-se a fazer algum trabalho voluntário para ajudar a comunidade neste momento?

– Defender que as pessoas possam ir passar o final de semana na sua casa de campo em Atibaia, aliviando tensões e ansiedades, ou defender que todos fiquem em suas casas para não serem vetores transmissores do vírus?

A difícil tarefa de ouvir a necessidade do outro.

É difícil ouvir quais as necessidades básicas do outro quando ela diverge ou entra em conflito com a nossa. Vários casais, familiares e amigos que moram na mesma casa vêm, cada vez mais, atacando-se e sentindo-se atacados frente às posições e comportamentos divergentes entre eles diante da pandemia e da quarentena que nos assola.

O que é essencial para um, não é necessariamente essencial para o outro. Lidar com a diferença não é nada fácil, é preciso saber e ter a disponibilidade para realmente ouvir o outro. É preciso ser empático.

Se antes já era difícil, agora, “confinados” em um mesmo espaço, muitas horas por dia, sem paciência, amedrontados e estressados, essa tarefa parece ser impossível! Geralmente as pessoas têm apenas “vomitado” aquilo que acreditam ser o certo, a verdade absoluta que, via de regra, consideram ser justamente aquilo que pensam. Como já dizia Moreno, renomado psicodramatista argentino, é preciso ver o mundo do outro com os olhos do outro.

O que fazer, então, diante dessa situação? Algumas dicas:

1. Lembrar que verdades absolutas não existem.

2. Lembrar que a maioria de nós (incluindo nosso vizinho, o governador de Milão e nós mesmos) está mudando de ideia, sentindo, avaliando e reavaliando essa situação nova e surreal a todo instante.

Hoje acho que ok andar 20 minutos para tomar um sol; amanhã acho que foi muita irresponsabilidade, “que absurdo!”; depois de amanhã volto a andar porque vitamina D é realmente muito importante para a resistência imunológica.

3. Perguntar-se o que, para si, é fundamental fazer ou não? Qual cuidado é fundamental eu ter comigo e que atividade é essencial para mim? Deixar claro para si mesmo suas necessidades básicas.

“Sou do grupo de risco, não quero sair de casa e que ninguém que more comigo também saia”; ou, “quero muito estar com minha mãe, tenho muito medo, seguido de crises de ansiedade se eu não a encontrar por um longo tempo”.

4. Ouvir o outro nas suas necessidades e medos.

Alguém que tem um histórico de abandono talvez tenha muita dificuldade de ficar sozinho em casa ou deixar um ente querido ficar só porque, diante dessas situações, sua ferida psíquica é acionada e a sensação terrível de abandono pode constelar-se para ele, podendo chegar a graus muito altos de tensão e angustia (sobrepondo-se aos cuidados e receios com o COVID 19).

5.Conversar, desenvolver empatia, criar e recriar combinados.

Para os introvertidos e caseiros, ficar em casa fechado e isolado pode ser uma “benção”. Para os extrovertidos e cheios de energia de ação, pode ser extremamente angustiante, levando-os a um alto grau de irritabilidade e/ou ansiedade. É fundamental que, por exemplo, um conjuge introvertido e caseiro pare para ouvir e entender seu parceiro extrovertido e cheio de energia de ação. E se o conjuge introvertido e caseiro for levemente hipocondríaco? O “levemente hipocondríaco”, no meio da atual pandemia, pode tornar-se extremamente hipocondríaco num piscar de olhos. Seu parceiro precisa, então, também enxergar o grau de desespero daquele frente ao vírus, à doença e a morte. Só assim, ouvindo e vendo um ao outro, eles podem criar uma empatia e, a partir de então, conversarem e criarem, juntos, regras e princípios de conduta que possam contemplar, da melhor forma possível, cada um deles.

Autoconhecimento e comunicação para promover relações mais harmoniosas

Conversar com o outro não é, de forma alguma, uma disputa para saber quem está certo ou errado, quem tem mais poder de convencimento. Conversar é um exercício de escuta. E nesse caso especifico, de escuta das razões, dos receios, dos medos, dos desejos, das necessidades de cada um.

Uma comunicação saudável é aquela em que o mais importante é ouvir e entender o outro; fazer-se ouvir e fazer-se entendido pelo outro. Comunicar-se não é vencer uma discussão, provar que está certo. Comunicar-se é, antes de tudo, trocar, compartilhar formas de ver o mundo, falar do seu mundo e ouvir como é o mundo do outro.

A psicoterapia e a psicoterapia de casal podem auxiliar indivíduos e casais a desenvolverem a escuta empática: interna (as necessidades, medos e desejos individuais) e externa (ouvir as necessidades, medos e desejos do outro), E, a partir dessa escuta empática, trabalha-se para encontrar uma melhor forma de lidar com as divergências internas e com aquelas inerentes às relações afetivas, promovendo, assim, uma maior harmonia diante dos desafios e dificuldades que “a vida em tempos de COVID-19” tem nos trazido.

Importante dizer que essas brigas provindas das divergências entre as pessoas, não raras vezes, são apenas pontas de icebergs. Lá no fundo, geralmente há um sentimento doloroso de não ser visto, escutado e respeitado nas nossas necessidades mais básicas. É comum não olharmos para aquilo que é importante e/ou doloroso para nós. Não olhamos, não validamos, não cuidamos, mas, mesmo que inconscientemente, exigimos que o outro faça isto para e por nós. Conhecer nossas necessidades, nossas feridas (geralmente com raízes antigas, da época em que éramos bebê ou criança) e nossas vulnerabilidades nos fazem mais conscientes de nós mesmos, fundamental para nos cuidarmos melhor e para nos comunicarmos de forma mais clara e eficiente com os outros com quem convivemos.

Quer realizar um Agendamento?
Entre em contato comigo através do formulário abaixo.

Blog

Artigos para Ler

Abrir Chat
Olá, tudo bem? Como posso te ajudar?