Na nossa cultura ocidental contemporânea, a sexualidade é uma das questões centrais e de extrema importância na vida dos casais. Precisamos olhar e falar dela, sem moralizá-la e sem biologizá-la, sem dogmatizá-la sobre o que deveria ou não ser.
No curso da história teológica judaica e cristã, a sexualidade e a reprodução se tornaram ligadas uma a outra. Até recentemente, a sexualidade só poderia ser vivida em conexão com a reprodução. É mérito das teorias freudianas a compreensão da sexualidade para além da reprodução. E foi Freud que demonstrou como todos os instintos parciais sexuais se unem no ato sexual para formar uma grande experiência.
Segundo a psicologia junguiana, a sexualidade sempre teve alguma coisa de numinoso, mágica, alguma coisa estranha e fascinante ao mesmo tempo. Podemos entender a sexualidade como algo que vai além da reprodução, do puro prazer e do relacionamento humano. A fusão sexual expressa a ponte que une, em nós, todas as compatibilidades e oposições predominantes. Até certo ponto, os parceiros amorosos completam um ao outro, e até certo ponto não estão, de forma alguma, sincronizados um ao outro. No ato de amor, toda polaridade e fragmentação do ser é superada… aí está seu fascínio e sua importância no relacionamento afetivo entre os casais.
É aconselhado que se viva no casamento os interesses sexuais compartilhados, se possível aceitando os desejos do outro, ou ao menos ouvindo-os e não os rejeitando e julgando. Isto pois, dessa forma, o casal tem a oportunidade de conhecer-se em todas as suas alturas e profundezas. Em alguns casamentos isso pode ser muito difícil.
O ideal é que um não tente fugir da sexualidade do outro, assim como não se deveria fugir do outro psicologicamente. Cada casal deve descobrir como viver a sexualidade. É um trabalho que cada um deve criar e recriar, enquanto indivíduo e enquanto casal. Não tem certo, nem errado.
Ressalta-se aqui que a “modernidade” exige que todos nós, da juventude à velhice, tenhamos uma vida sexual saudável e vigorosa. Há uma pressão social que diz que indivíduos sadios, casados ou solteiros, não podem levar uma vida assexual. Apesar de ser um pouco mais raro, há casais ou parceiros que não têm muito interesse na sexualidade. E isso não é necessariamente um problema. O problema se dá quando os parceiros divergem na importância que cada um dá à relação sexual.
Atualmente vem crescendo o número de estudos sobre a assexualidade, considerada uma orientação sexual caracterizada pela ausência de interesse por sexo, apesar do indivíduo apreciar a intimidade e o amor, envolvendo-se emocionalmente com um parceiro e, muitas vezes, desenvolvendo relações sem qualquer contato sexual.
Cada pessoa e cada casal se relaciona de uma forma singular com a sua sexualidade. E, por mais que se fale tanto em sexo pelo Brasil a fora, este tema ainda é um grande tabu. Falar da nossa sexualidade – nossos medos, desejos, incômodos, prazeres, fantasias, conforto e desconfortos etc. – com amigos, com o próprio parceiro amoroso e até com nós mesmos é, muitas vezes, extremamente difícil. Sentimentos de vergonha e inapropriação são recorrentes ao abordarmos tal tema.
Sexualidade é algo íntimo e profundo. Poder falar dela num ambiente seguro, acolhedor e sem julgamentos é extremamente importante quando algo não vai muito bem, quando algo está confuso dentro da gente, quando há divergências no casal ou quando se deseja vivê-la de forma mais completa.
A terapia de casal e a terapia individual com foco em relacionamentos afetivos pode ajudar você a entender melhor sua sexualidade, a sexualidade do casal e, se desejado, ajudar você(s) a se conectar(em) com ela de uma forma plena e prazerosa.
*Por “casamento”/“relacionamento conjugal”, estou chamando todo e qualquer relacionamento afetivo entre duas (ou mais) pessoas que escolhem conviver juntas, compartilhando a vida, como companheiras de jornada. E isso independe de registro civil, celebração/benção religiosa ou moradia em conjunto.