Ansiedade, Pânico e o Mito do Deus Pã
A violência das crises de ansiedade e pânico têm vitimado cada vez mais pessoas de forma súbita, limitando setores importantes da vida relacional destas.
Impossível pensarmos o ataque de pânico apenas como uma síndrome psiquiátrica. O medo, a ansiedade e sua forma extrema, o pânico, são reações características das espécies animais superiores e inerentes à condição humana. O pânico é um sinal de alarme de que algo não vai bem ao nível psíquico. E a simples eliminação dos sintomas através da medicalização pode significar a perda de uma oportunidade para reformular uma vida, ou aspectos dela, que se encontra estagnada, exigindo reformulação.
Sintomas e outras questões relacionadas ao pânico
O mundo, as notícias de jornais e as diversas histórias trágicas que ouvimos recorrentemente parecem nos convidar, cada dia mais, a nos tornarmos mais preocupados, desiludidos e ansiosos.
A ansiedade nos pega! Como não nos identificarmos totalmente com ela? O que sou eu e o que é a minha ansiedade?
A OMS (Organização Mundial de Saúde), em maio de 2019, considerou o Brasil o país mais ansioso do mundo: somos 18,6 milhões de pessoas sofrendo de ansiedade.
Definição de Transtorno do Pânico segundo a DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):
É uma doença (ansiedade paroxística episódica) que se caracteriza pela ocorrência repentina, inesperada e de certa forma inexplicável de crises de ansiedade aguda marcadas por muito medo e desespero, associadas a sintomas físicos e emocionais aterrorizantes, que atingem sua intensidade máxima em até 10 minutos. Durante o ataque de pânico, em geral de curta duração, a pessoa experimenta a nítida sensação de que vai morrer, ou de que perdeu o controle sobre si mesma e vai enlouquecer.
A primeira crise pode ocorrer em qualquer idade, mas costuma manifestar-se na adolescência ou no início da idade adulta, sem motivo aparente. O episódio pode repetir-se, de forma aleatória, várias vezes no mesmo dia ou demorar semanas, meses ou até anos para surgir novamente. Pode também ocorrer durante o sono.
O transtorno do pânico consiste em ataques de pânico recorrentes que causam uma preocupação excessiva com ataques futuros e/ou modificações de comportamento para evitar situações que poderiam desencadear um ataque.
Uma crise isolada ou uma reação de medo intenso diante de ameaças reais não constituem eventos suficientes para o diagnóstico da doença. As crises precisam ser recorrentes e provocar modificações no comportamento que interferem negativamente no estilo de vida dos pacientes.
O ataque de pânico começa de repente e apresenta pelo menos quatro dos seguintes sintomas:
– Medo de morrer;
– Medo de perder o controle e enlouquecer;
– Despersonalização (impressão de desligamento do mundo exterior, como se a pessoa estivesse vivendo um sonho) e desrealização (distorção na visão de mundo e de si mesmo que impede diferenciar a realidade da fantasia);
– Dor e/ou desconforto no peito que podem ser confundidos com os sinais do infarto;
– Palpitações e taquicardia;
– Sensação de falta de ar e de sufocamento;
– Sudorese;
– Náusea;
– Desconforto abdominal;
– Tontura ou vertigem;
– Ondas de calor e calafrios;
– Adormecimento e formigamentos;
– Tremores, abalos e estremecimentos.
Com frequência, portadores do transtorno do pânico apresentam quadros de depressão. Em alguns casos, alguns buscam no alcoolismo uma saída para aliviar as crises de ansiedade.
Pânico: um medo que protege ou que limita o viver?
A ansiedade é algo que agita nossa mente, é uma reação frente ao medo, um mecanismo de defesa contra uma situação que nos amedronta.
Mas devemos enfrentar o medo, enfrentar os sintomas que ele gera (ansiedade, pânico) e fazer o novo? Ou devemos ouvir nossos medos, considerar os sintomas de ansiedade como “amigos” que nos alertam contra um perigo real, físico ou psíquico? Exemplificando, um perigo físico real seria, por exemplo, o caso de uma pessoa andar sozinha a noite, num lugar conhecido por ser violento (assaltos etc). Um perigo psíquico real seria, por exemplo, o caso de um jovem imaturo, com pouca independência emocional e que esteja vivendo o luto de uma pessoa significativa para ele, aventurar-se a sair da casa dos pais e ir morar num outro país. Lembrando que a distinção entre físico e psíquico, real e imaginário, é muitas vezes mais pedagógica, dado que a linha entre eles é tênue e que as partes são na verdade constituintes de um só todo.
Mas voltando a nossas indagações: quando o medo e os sintomas ansiosos estão nos protegendo? E quando estão nos boicotando e nos impedindo de viver plenamente?
O papel da psicoterapia é olhar e esclarecer, junto com o paciente, que medo é esse, medo do que? O que pode acontecer se eu enfrentar esse medo? Tenho medo dos meus desejos e vontades? Que desejos e vontades são esses?
Temos medo das “coisas ruins”, mas também temos medo das “coisas boas”. Temos medo de nos entregarmos as coisas boas, de viver o bom e de repente elas sumirem. Então, muitas vezes, quando tudo está bom, nos boicotamos, arrumamos problemas onde não existe (no trabalho, no amor etc). Destruímos o bom, ou o que pode vir a ser bom, com medo de perdê-lo, porque nos parece melhor acabar com algo “pelas nossas próprias mãos” do que ficar a mercê do outro ou do destino. Geralmente isso acontece na vida de pessoas inseguras e controladoras, elas tiram o bom de suas vidas com medo da vida tirar isso delas: elas preferem controlar do que viver. Claro que não é uma escolha consciente, e claro que a intensão é evitar a dor. Diante de tantas questões, uma coisa é certa: o desafio e a crise de pânico nos tira da nossa zona de conforto.