Os gregos acreditavam que tudo apresentava lados positivos e negativos. Assim também era o Deus Pã. Conscientes dessa dualidade, eles viam nele a ameaça da dissociação e fragmentação, mas também seu aspecto unificador e propiciador da vivencia totalizadora.
A vida instintiva das pessoas com transtorno de ansiedade e do pânico pode ser vista como fonte de prazer, mas repleta de ameaças e perigos. Por esse motivo, elas negam e reprimem seus desejos. Muitas vezes esses impulsos instintivos ficam sufocados, escondidos por de baixo do tapete, por muito tempo. Noutras situações, esses impulsos emergem de forma repentina e explosiva, são situações em que o indivíduo não consegue mais controlá-los e eles “tomam conta” da pessoa momentaneamente.
Com medo dos nossos instintos, muitas vezes desenvolvemos capacidades intelectuais, racionalizamos tudo em nossas vidas, até nossos afetos e emoções. Mas, feliz ou infelizmente (para alguns), é impossível erradicar completamente nossos instintos.
Quando reprimimos exageradamente nossos instintos uma grande instabilidade psicológica é constelada, pois perdemos o contato com nós mesmo, com nossa essência. Começamos a viver uma vida que não é nossa, que não é autentica, que é artificial, superficial e mecânica. É nesse estado de desconexão com nós mesmos que muitas vezes ocorre uma crise de pânico: é o Deus Pã tentando reestabelecer o equilíbrio perdido; é o Deus Pã “gritando”, buscando trazer para consciência e para nossa vida aspectos importantes nossos que estamos sufocando e negando por medo de encará-los (leia na parte II a respeito do mito do Deus Pã).
Como já foi dito antes, a crise de pânico pode ser a oportunidade para reformularmos uma vida, ou aspectos dela, que se encontra estagnada. A crise de pânico pode ser um pedido de socorro, pode ser nossa “alma” exigindo uma reformulação.
Da mesma forma que nossa cultura transformou Pã em demônio (desde o inicio do cristianismo Pã esteve identificado com o demônio, perdendo todo seu lado positivo), nós, individualmente, transformamos alguns de nossos instintos em demônios. E quando estes tentam emergir, nós o enxergamos como fobias, pesadelos e crises de pânico.
Temos medo, receio de não darmos conta de lidar com nossos instintos. Mas é fundamental olhá-los de frente e integrá-los, de alguma forma, no nosso dia a dia, se não completamente, pelo menos em parte.
Como a psicoterapia analítica pode ajudar os indivíduos com Crise de Ansiedade e Transtorno do Pânico
As crises de pânico costumam coincidir com fases de transição para uma nova etapa da vida, a qual exige de nós reações diferentes daquelas que, até então, vinham sendo utilizadas.
Durante as crises de pânico o indivíduo se vê envolvido por um verdadeiro caos de emoções, sendo o medo da morte, da psicose ou do suicídio muito presente.
Nas crises de ansiedade e pânico, nossas fantasias e medos (mesmo para aqueles que sabem de sua origem interna) são sentidos como reais. Nossos órgãos sensoriais reagem a elas como se fossem reais, emocionalmente estamos diante de um tigre faminto e feroz, mesmo que esse “tigre” seja, para um professor recém-formado, dar sua primeira aula ou, para um garoto de 18 anos, assumir para si mesmo sua homoafetividade.
A psicoterapia profunda auxilia o paciente a lidar com essas emoções muito violentas que afloram durante ou logo antes das crises de ansiedade e pânico. Busca-se, junto com o paciente, mantê-las em “fogo brando” para, lentamente e de forma segura, elaborá-las. O ego, centro da consciência do indivíduo, deve ter tempo e apoio para elaborar e integrar os instintos a muito tempo reprimidos, por medo, pelo indivíduo.
O psicoterapeuta deve dar continência e o amparo necessário para a livre expressão das emoções do paciente, aliviando a pressão dos temidos conteúdos irracionais e inconscientes.
É fundamental confrontar-se com tais conteúdos, compreender seus significados e integrá-los na consciência. É importante observarmos nossos medos, nossa ansiedade: que parte de mim está com medo? Medo de que parte minha? Olhar e compreender esses conteúdos facilita a resolução dos conflitos (consciente versus inconsciente), reduzindo o medo, a angústia, a necessidade de controle e o pânico.