Poder Pessoal versus Poder Opressivo – Parte 1

O que é “poder”?

Quando estamos falando de relações afetivas, profissionais, autoestima etc. usamos a palavra poder de formas distintas e, muitas vezes, não nos perguntamos em que sentindo a estamos usando (verbal, emocional e comportamentalmente). O dicionário Michaelis nos apresenta diversas definições de “poder”, entre elas:

  1. Capacidade ou habilidade de executar algo
  2. Força física ou moral
  3. Imposição de obediência
  4. Controle total
  5. Grande influência
  6. Domínio exercido sobre algo
  7. Total superioridade para governar
  8. Eficácia em resultados
  9. Forma utilizada para superar uma situação de grande dificuldade; recurso
  10. Disposição natural ou adquirida para exercer qualquer atividade
  11. Quantidade superior ao necessário

Aqui iremos abordar o poder basicamente em duas de suas vertentes e esclarecer a diferença entre elas. Temos o “poder” relacionado à possibilidade, capacidade, liberdade: eu posso fazer, pensar, sentir, conquistar meus sonhos. E temos o “poder” relacionado à opressão, domínio e controle: eu tenho poder sobre outro individuo, sobre uma situação ou instinto. No primeiro caso temos o poder associado ao poder pessoal (termo muito usado por coaches e pela psicologia positiva); no segundo temos o poder associado a relações abusivas e ligadas a competitividade e sentimentos de inferioridade e superioridade.

Quando estamos realmente integrados ao nosso centro de poder, este se manifesta na forma de “poder pessoal”; mas quando não estamos integrados com este centro, o poder manifesta-se de forma distorcida, ou seja, como “poder opressivo”, competitivo e destrutivo.

Terceiro Chakra: o centro energético do poder

Várias linhas psicológicas, filosóficas e medicinais, orientais e, mais recentemente, ocidentais (incluindo aqui a psicologia de Jung) incluem em seus estudos e paradigmas os denominados Chakras.

O que são Chakras?

Os Chakras podem ser definidos como centros de energia que coletam, transmutam e redistribuem as energias através dos Nadis (formação de energia na forma de canal na qual o Prana flui) e expressam-se de forma densa no nosso corpo (nas glândulas). Temos vários Chakras no nosso corpo, sendo sete deles considerados os mais importantes, dado seu alto grau de concentração e potência energética.

Características do chakra relacionado ao poder

O terceiro Chakra, chamado de Manipura, é o nosso centro energético relacionado ao poder. Está localizado no plexo solar (“bola de luz”), próximo a região do estomago e do diafragma; relaciona-se com a vontade, com o desejo, com o eu, com o ego, com as emoções. É o centro da vida física, do querer, do ter, do poder, do desejar. Este centro é associado ao progresso e ao desenvolvimento. A criatividade deste Chakra é pertinente ao ego, ao afirmar-se enquanto pessoa. Seu elemento é o fogo, está associado a uma energia magnética e a palavra chave é “eu sou”.

Ação, individualidade e autoestima são outras características ligadas a este centro energético.

Quando nosso centro de poder está equilibrado?

Este centro energético relaciona-se com a autoafirmação e com a auto realização. Se bem equilibrado impulsiona o indivíduo a reconhecer seu próprio valor e a ir atrás do que realmente quer, sem medo do julgamento alheio, sem se preocupar com o que os outros possam pensar.

Quando o indivíduo expressa sua própria energia, seu poder, com integridade ele respeita, também, o poder dos outros. Integrados com nosso próprio poder e com nossa própria integridade, expandimos nossa própria energia e a colocamos para fora, para o mundo.

O uso exagerado da palavra “próprio(a)” no paragrafo anterior é proposital e tem como objetivo enfatizar o fato do “poder pessoal” estar relacionado unicamente à energia de poder do individuo, com a conexão deste com essa energia, não tendo relação alguma com os outros. Ou seja, o poder pessoal não está vinculado, se devidamente equilibrado, com comportamentos e sentimentos de comparação (inferioridade/superioridade) e domínio (abusador/abusado).

Geralmente a expressão sadia desse centro de poder está de alguma forma associada ao proposito de vida da pessoa, daquilo que ela pode oferecer para o mundo e para sociedade. E, ao fazer isto, a pessoa encontra-se “relaxada” e não tensa, ansiosa ou preocupada em ser aceita, recriminada ou aplaudida pela sociedade.

Quando nosso centro de poder está desequilibrado?

Mas quando não somos capazes de expressar e expandir essa energia, o nosso poder pessoal, somos tomados por ondas emocionais de raiva, vergonha, agressividade, agressão e/ou violência. Isso ocorre porque nosso poder não está funcionando de maneira integrada.

É comum, então, que o indivíduo comece a julgar a si mesmo e ao outro. Às vezes as críticas tomam uma proporção gigantesca, em intensidade e frequência, atrapalhando a vida afetiva e profissional da pessoa, podendo chegar, por exemplo, a um divórcio ou a uma demissão. Essa critica excessiva também, como foi apontado acima, pode recair sobre o próprio indivíduo. É aquela voz interna cobradora, que não nos deixa em paz, mesmo quando racionalmente sabemos que “não estamos fazendo nada de errado”. Uma voz carrasca e julgadora que nos enlouquece, nos enfraquece e nos perturba até durante nosso sono.

Oprimimos o outro ou a nós mesmos de forma brusca e ríspida, desrespeitosa e destrutiva. Ficamos presos na díade dominante e dominado, superior e inferior, preocupados em saber quem manda em quem, quem é o mais forte. Suicídios muitas vezes estão ligados a uma dificuldade do indivíduo lidar com essa voz interna que o atormenta, compara e exige perfeição. Relacionamentos abusivos como a violência doméstica, que não raro leva ao assassinato, é um clássico exemplo de relações em que as pessoas envolvidas estão desintegradas do seu centro de poder. E, vale ressaltar, que não são só as pessoas diretamente envolvidas, mas toda uma sociedade que se encontra desintegrada desse centro de poder, levando-o a se manifestar de forma distorcida e insalubre.

Entramos num jogo de poder em que o importante é fazer valer nossa vontade e nossa forma de ver o mundo, não escutando o outro e apenas desejando subjuga-lo e deprecia-lo. Nesse momento de pandemia, quarentena e polarização política, podemos encontrar diversos exemplos desse comportamento entre os brasileiros.

Como uma respiração: cheio de poder – com pouco poder

Se equilibrado, nosso centro de poder nos permite encontrar pela vida momentos em que estamos repletos dele e momentos em que estamos mais esvaziados. Às vezes estamos cheios de poder, noutras situações ou momentos da vida estamos com pouco poder. Isso é normal, é o esperado, é o ritmo natural da vida, como uma respiração: alternando pulmão repleto de ar, pulmão vazio; muito poder num momento, pouco poder em outro.

E tudo bem estar com pouco poder em alguns momentos da vida, nesses momentos você pode receber do outro, que está pleno de poder. Lembrando que não estamos aqui falando do poder opressivo.

É necessário aceitarmos nosso poder em determinadas situações e nosso pouco poder em outras. Mas temos dificuldade de viver esse movimento, essa “respiração”. Muitas vezes temos medo de ficarmos “vazios de poder” para sempre e, assim, prendemos a respiração, o ar não entra nem sai… Ou seja, ironicamente, podemos ficar sem poder por um longo tempo porque paramos nossa respiração justamente ao experimentarmos um pouco desse vazio (sem poder). Então, amedrontados, endurecemos nosso “diafragma” e nenhum ar (poder) entra, nem sai. Ficamos sem movimento, sem ar, sem poder, sem vida.

Mas, ao relaxarmos, ao nos desconectarmos do medo e da necessidade opressiva do controle, a respiração “muito poder-pouco poder” pode voltar a seguir seu ritmo natural e, assim, podemos respirar poder novamente.

Noutras situações paralisamos nossa respiração com os pulmões cheios de ar, de poder. Nos apegamos ao poder e não queremos deixa-lo sair de nós. Impedimos mais uma vez o movimento natural e nossa conexão com essa energia, ao não ser reciclada, acaba por gerar uma distorção para com ela. Ao não expirarmos acabamos por subjugar o outro, a trata-lo como um inimigo, como se ele fosse o responsável por nossa possível perda de energia de poder. Chegamos, não raramente, no limite de agredir e destruir aqueles que amamos, tamanho é o medo de ficarmos sem ar, sem poder, por um espaço de tempo demasiado.

Há também muitas pessoas que, inconscientemente, auto boicotam sua conexão com seu poder pessoal, por culpa, medo e outros sentimentos que tomam conta do nosso ser. Não raro recebo em meu consultório pessoas que queixam-se de se sentirem fracas, sem poder e que gostariam de acessá-lo mas que, logo no início das sessões de psicoterapia, fica claro como seguram e reprimem sua conexão e a expressão de seu poder pessoal. Algumas vezes é o medo de ofuscar o brilho do outro e, por isso, deixar de ser amado por esse outro; noutras vezes é a angustia de ser julgado e excluído de um grupo de amigos e familiares se expressar seu potencial; noutras ainda, a pessoa reprime esse poder por não se sentir grande o suficiente para se colocar no mundo, lutando inconscientemente para permanecer numa posição de criança, filho e aprendiz.

É preciso de coragem para respirar. A psicoterapia auxilia as pessoas a inspirarem e a expirarem de forma natural e saudável. Ela auxilia o indivíduo a se conectar e a expressar o seu poder interno, favorecendo uma vida mais plena, construtiva, viva e harmoniosa.

Sentimento de superioridade e sentimento de inferioridade

É muito comum confundirmos “muito poder” com superioridade e “pouco poder” com inferioridade. Mas, estar com muito poder não é ser superior, assim como estar com pouco poder não é ser inferior. Quando estamos nesse “modo operando” de comparação, estamos com nosso centro energético de poder desequilibrado distorcido.

É importante ficar claro que estar conectado com o seu poder é sentir e expressar “aquilo que te faz grande”, e não superior. É sentir e expressar sua inteligência, seu amor, seus talentos. Com ele integrado sentimos a satisfação, plenitude, liberdade e tranquilidade. Quando cheios de poder podemos oferecer para nós mesmos e para aqueles que nos cercam as nossas potencialidades, aquelas próprias de cada um (pode ser, por exemplo, a capacidade de aceitação, capacidade de resolver problemas concretos, habilidade em cuidar, de construir uma casa, de embelezar um espaço e/ou a vida, de trazer alegria etc.).

PODER

EQUILIBRADO   DESEQUILIBRADO
Responsabilidade (habilidade em lidar com o que está acontecendo em nossa vida) Delegamos responsabilidade aos outros (culpamos o outro quando as coisas não estão acontecendo da forma que gostaríamos que acontecessem)
Boa auto estima Baixa auto estima (ficamos nos comparando aos outros)
Autoconfiança (sentimos uma estabilidade com relação ao nosso poder pessoal) Não temos confiança em nós mesmos
Boa auto disciplina Comportamento extremamente autoritário com nós mesmos e/ou com os outros (manipulações etc.0
Boa capacidade de tomar riscos Extremamente passivos ou muito controladores

A psicoterapia e a psicoterapia com abordagem corporal auxiliam-nos a nos conectar com nosso centro de poder pessoal, a equilibrá-lo e a expressá-lo de forma construtiva através de vivencias corporais e reflexões.

Poder Pessoal versus Poder Opressivo – Parte 2

O Amor e o Poder Distorcido nos Relacionamentos Afetivos

“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.” (Jung).

Jung, renomado psicoterapeuta, diz que o oposto do amor não é o ódio, mas o poder. Sim, o poder, mas aqui ele está falando do poder distorcido, do poder que oprime, julga e compete.

Embora os relacionamentos aconteçam em nome do amor, o poder distorcido ainda vem ocupando uma parte central no relacionamento afetivo das pessoas, seja entre casais de namorados, marido e mulher, pais e filhos ou mesmo entre amigos. Às vezes um dos parceiros chega, através da força física, manipulação ou assedio moral, a coibir o outro a tomar decisões ou mesmo emitir suas opiniões. Mesmo em casos mais sutis, valer-se do poder opressivo é uma violência e um desrespeito para com o outro.

Muitas vezes queremos que o outro satisfaça as nossas expectativas e nossas vontades. Nesses casos, o objetivo real da relação não é promover o bem-estar desta (relações conjugais, parentais ou de amizade) e, sim, promover um bem-estar pessoal, a partir do controle e do domínio do outro.

Um número grande de pessoas acredita que é preciso “ter” para ser feliz e olha o outro como um objeto. Para essas pessoas, consciente ou inconscientemente, o passo seguinte é, obviamente, buscar controlar este “objeto”, já que o outro faz parte da sua lista de conquistas. Muitos casais acabam, então, disputando quem tem mais força e poder afim de subjugar seu parceiro e controlá-lo.

Podemos dizer que o contrário de amar é querer controlar o outro; é tirar-lhe a liberdade para que ele não seja mais quem é e não faça mais o que quer. Quanto mais alguém se apodera de outra pessoa mais a impede de ser um legítimo outro. Aqui não temos amor. Essas são relações baseadas no poder distorcido e aquele que fica desprovido de si mesmo, de seu poder pessoal, passa a viver uma “morte em vida”. Ele vira um morto vivo, distante de sua energia vital e longe de suas realizações pessoais. Ele perderá identidade, individualidade e vida, moldando-se a padrões que não são os seus.

Relações em que encontramos o ciúme excessivo em seu cerne são um ótimo e triste exemplo de casos como este e devem ser tratados.

Infelizmente, confundimos muito as relações de poder opressiva com amor, nos colocamos numa posição de domínio que tende sempre a degradar a outra parte. Dessa forma, a relação não se pauta mais na admiração, respeito e no companheirismo. As pessoas envolvidas nesse tipo de relacionamento ficam preocupadas em atacar a autonomia do outro.

É de extrema importância estarmos sempre atentos em como estamos nos relacionando e, caso necessário, a ajuda de um psicoterapeuta é essencial. A psicoterapia individual e a psicoterapia de casal auxiliam as pessoas a trilharem o caminho de uma relação mais saudável e verdadeiramente amorosa.

Poder Pessoal versus Poder Opressivo – Parte 3

Integrar seu próprio poder é um caminho

Coragem é pensar por si mesmo. em voz alta

Capacidade de ação

Falar do poder pessoal, do poder integrado, vai muito além e na direção oposta do jogo de poder e da opressão. Estar integrado ao nosso poder também não é, tão pouco, “poder tudo”, mas poder, vez ou outra, tocá-lo, encontrá-lo dentro de nós, senti-lo e desenvolve-lo. Reconhecer e nos conectarmos a ele nos permite, de forma ética, expressá-lo e utilizá-lo para buscar no mundo aquilo que nos interessa, aquilo que almejamos para nós mesmos e aquilo que desejamos oferecer para o mundo.

O poder pessoal está ligado com autoestima, com a capacidade de reconhecermos nossa força pessoal, nossas qualidades, onde se encontram e, assim, toma-las para nós mesmos e utiliza-las no nosso dia-a-dia.

Encontrar e reconhecer nosso poder é fundamental para agirmos no mundo. Ele nos dá corpo, inteireza e a segurança necessária para fazer, agir, transformar, buscar e conquistar.

Ética

A ética aqui é espontaneamente considerada para que essa ação desejada e impulsionada pelo poder pessoal não prejudique o outro de forma desnecessária e desrespeitosa. Isso não significa, porém, não magoar o outro: nossas buscas, escolhas e ações nunca vão agradar a todos. Há limites éticos e morais, individuais, familiares e sociais. E é importante que o individuo descubra quais os seus e quais os do seu meio social. Temos aqui uma dança a ser aprendida e reaprendida dia após dia: do desejo e da liberdade individual com o respeito ao outro. Difícil tarefa, um desafio.

Fazer brilhar

Quando repletos de energia de poder integrado, nos expandimos, brilhamos, transbordamos nossas qualidades, encantamos e podemos ajudar, favorecer e inspirar os outros (desde que estes estejam abertos a receber). Não nos colocamos acima deles, não subjugamos e nem os colocamos na posição de inferiores e incapazes.

Para se perguntar: como você se relaciona com o Poder?

Você conhece seu poder?

Como você tem usado ele?

Ele está a serviço do que?

Como você se sente diante de alguém que está de posse do poder pessoal? Você se sente inferior? Vulnerável? Admira o outro? Compara-se a ele? Julga-se menos que ele?

E como você se sente quando está de posse do seu poder pessoal?

Você se permite acessar e viver seu poder pessoal? Você o aceita? Tem receio dele se manifestar de forma destrutiva?

Você sabe distinguir quando está de posse do seu real poder pessoal ou quando está conectado como poder em sua forma distorcida e que o leva a sentir-se superior?

Que tipo de poder você confere aos outros?

Quando o poder do outro te ameaça?

Você lembra de situações em que foi ameaçada e machucada pelo poder distorcido do outro?

E hoje, que situações de poder te sufocam e te machucam?

Como o subtítulo desse artigo diz, integrar o poder pessoal é um caminho. É papel da psicoterapia ajudar as pessoas a trilharem este caminho. Se estas questões tocaram você, leia os demais artigos dessa trilogia (Poder – poder pessoal versos poder opressivo) e, caso sinta vontade, entre em contato comigo.