TRILOGIA – O CURADOR INTERNO E O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO PARTE III: APRENDENDO A SENTIR, A MOVER E A RELACIONAR-SE

“Quanto mais fundo as raízes da árvore entram na terra, mais alto os galhos se colocam em direção ao céu” (Marion Woodman).

Aprender a sentir – entrando em contato com nossos sentimentos

Geralmente as pessoas não sabem como realmente sentir. Elas sabem como pensar. A maioria de nós está quase permanentemente pensando. Querendo ou não, nossas mentes não se calam. Passamos muitas horas da nossa infância, adolescência e juventude sentados em carteiras aprendendo a pensar, a analisar. Depois, já adultos, em nosso trabalho, geralmente somos pagos para, sentados, ficarmos novamente horas e horas a fio pensando e analisando algo. Aprendemos e somos muito estimulados a pensar, mas ninguém nos ensina a sentir, nem nosso corpo, nem nossas emoções.

Então, para a maioria das pessoas, uma das primeiras coisas a ser trabalhada no processo psicoterapêutico é a habilidade sentir: perceber o que sente, como sentir, dar nome ao que sente.

Ao nos abrirmos para o sentir podemos, inevitavelmente, permitir que sentimentos dolorosos aflorem. O desafio neste ponto é permitir que eles emergem sem tentarmos modificá-los, pois assim, e só assim, eles podem ser integrados. Normalmente as pessoas tentam se livrar de sentimentos dolorosos, isso faz com que eles fiquem presos no mesmo lugar, “para sempre”, surgindo vez ou outra de forma extremamente inoportuna e descontrolada (como numa crise de pânico, por exemplo) ou agindo “por baixo da moita” cotidianamente (boicotando nosso desempenho profissional, por exemplo). Um bom vinculo psicoterapêutico com um profissional qualificado auxilia o indivíduo a abrir-se a tais sentimentos dolorosos, encará-los e integrá-los de forma saudável à sua psique.

“A honestidade crua de uma imagem do inconsciente pode nos deixar mudos com lagrimas ou risadas, muitas vezes com os dois, porque a imagem se move naquela linha tênue do absurdo entre a tragédia e a comedia. Se o ego pode assimilar o ponto de vista apresentado pelo inconsciente e ver a si mesmo objetivamente, então ele pode encontrar uma nova perspectiva. Ele pode observar a si mesmo sofrendo, mas ao mesmo tempo, experimentar o sofrimento como dores do parto. O ego que está se relacionando com a alma (pensamento com o lado direito do cérebro, se quiserem) é motivado a refletir as imagens oníricas na pintura, dança, canto. Escultura, escrita, permitindo assim que o processo de cura transforme em energia de vida o que de outra forma seriam imagens mortas” (Marrion Woodman).

As pessoas podem, então, aprender a desviar sua atenção do pensamento analítico para sensações e sentimentos, reconectando-se aos seus corpos e à sua capacidade de sentir prazer e sabedoria. Experiências surpreendentes de alegria e intimidade podem alternar com memórias de emoções dolorosas e “insights” profundos também podem acontecer. Permitindo todas essas experiências, permitindo-se sentir, a nossa capacidade de aceitar e integrar cresce. E uma vez que compreendemos que viver em vulnerabilidade é a nossa maior força, a intimidade conosco, com nossas emoções, sentimentos, desejos, medos e também a nossa intimidade com os outros tornam-se oportunidades maravilhosas para descobrir a nós mesmos e realmente encontrar bons parceiros (amores, amigos, colegas de trabalho etc.). A vida se torna uma aventura.

Aprender a mover – entrando em contato com a nossa energia vital

Para sentir a vida dentro de si, o indivíduo precisa entrar no fluxo da vida. E é muito difícil aprender a viver esse fluxo porque a sociedade vende uma história de que a vida é um “potinho”, que ela não muda. Criamos tensões e couraças para manter a vida parada. Mas couraça não é proteção quando exagerada, neste caso ela é uma armadura que o próprio indivíduo usa para aprisionar a si mesmo e ao outro… para que nada mude.

Mover é criar espaço para o movimento acontecer. E a experiência dá corpo para o indivíduo viver o “não sei”, por que a vida é um eterno “não sei”: a proposta pode ser arriscar-se. É importante que se saiba mover mesmo na dúvida; poder mover na transição, não precisar ficar numa coisa ou na outra. E é importante também aprender a mover-se com obstáculos. Podemos apreender os obstáculos dentro de nós, não precisamos necessariamente tirá-los de cena, podemos nos misturar e nos mover junto com os obstáculos da vida!

Aprendendo a relacionar-se a partir do sentir e do mover

Nas relações pessoais, as pessoas se sentem vulneráveis porque sabem, com suas experiencias passadas (vida intrauterina, infância, juventude etc.), que podem ser rejeitadas e sentirem dor. Diante disto, para nos protegermos, criamos um personagem para “acertarmos no que fazer para a relação dar certo”, ou seja, criamos uma máscara, algo que não somos verdadeiramente. Procuramos por um amor incondicional do lado de fora sem saber como dá-lo a nós mesmos.

Pode parecer extremamente piegas, mas, sim, o amor vem de dentro e só então transborda para fora e, consequentemente, para o outro. Precisamos nos amar, nos aceitar com nossos defeitos e limitações, gostarmos de nós mesmos apesar dos nossos erros e imperfeições. Se isso não ocorrer, ficaremos eternamente “mendigando” por um amor incondicional a um parceiro, ao invés de viver o amor com ele.

Como diz a psicoterapeuta Marrion Woodman, “a menos que o corpo saiba que é amado e que suas respostas são aceitáveis, a psique não tem o lastro de certeza nos instintos de que precisa… o indivíduo empaca porque o ego teme confiar. No momento de entregar-se o ego paralisa-se. A menos que o corpo saiba que existem braços internos amorosos, fortes o suficiente para contê-los, ele continuará recorrendo à própria rigidez no esforço de sobreviver”.

O processo psicoterapêutico é um trabalho de autoconhecimento, de responsabilidade, de presença, de consciência do que se está fazendo, do que se está criando (consigo mesmo, com o outro, com a sociedade). Aprendendo a aceitar quem eu sou, o que eu sinto, aprendendo a dar atenção a si mesmo, aprendendo a não rejeitar certos sentimentos e nem a se agarrar em outros, podemos conectarmos conosco e com os outros, tornando-nos mais integrados.

Desenvolvendo resiliência e entrando em contato com a alegria de viver

O processo psicoterapêutico também promove resiliência ao ajudar o indivíduo a desenvolver um olhar para os recursos internos (como uma personalidade assertiva, acolhedora ou empreendedora) e externos (como um amigo ou chefe que possam auxilia-lo em alguma tarefa ou desafio) que possui; e não apenas para os traumas daquilo que foi ou é vivido por ele.

É importante olharmos e valorizarmos o que é belo, alegre e cheio de êxtase. Os filósofos existenciais no Ocidente “tropeçaram” muito no aspecto negativo da experiência humana: angústia, depressão, tristeza, desesperança, falta de sentido etc. Não devemos, de forma alguma, negar os aspectos “negativos” que a vida nos traz, mas devemos abrir um espaço imenso dentro de nós, no nosso dia-a-dia para que possamos viver os aspectos “positivos” e gratificantes que nos preenchem e que nos cercam.

* Esse texto faz parte de uma trilogia:

– Parte I: O que é saúde, doença e cura?

– Parte II: Enfrentando o nosso bicho papão

– Parte III: Aprendendo a sentir, a mover e a relacionar-se

* Sugestão de filmes sobre o assunto:

– “Sete Minutos Depois Da Meia Noite” (Netflix)

– “Divertidamente”

TRILOGIA – O CURADOR INTERNO E O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO PARTE II: ENFRENTANDO O NOSSO BICHO PAPÃO

A importância de encarar nossas dores e traumas para viver um presente saudável

“Crucial para o sucesso da análise é a afirmação da dor como a voz do si mesmo autentico. O sofrimento em analise não tem nada a ver com masoquismo. O prazer que deriva da dor é o reconhecimento de que existe uma voz autentica dentro de si, como o choro de uma criança que por acidente caiu em um poço. Todos os aldeões correm contra o relógio para salvá-la, encorajados e energizados pelo som do seu choro que ainda pode ser ouvido. Se conseguirem alcança-lo antes que o choro pare, eles sabem que ela pode ser salva. Seu choro é o guia e a esperança deles (…) Saber que o resgate é possível torna o choro ainda mais intenso. É menos um choro de medo do que um choro de esperança. Ele declara: ‘estou aqui, estou vivo’” (Marion Woodman).

Para nos curarmos é importante olharmos para nossa história, pessoal e familiar. Mas, às vezes, temos tanto medo de olhá-la que acabamos por ignorá-la ou fechá-la dentro de um baú, com sete chaves. Isso acontece porque nossa história nem sempre foi e é “bonitinha”, geralmente todos nós passamos por momentos difíceis. Momentos que foram vividos, anos ou minutos atrás, com muita dor, desespero, angustia e/ou impotência. Com medo de reviver esses sentimentos e não suportarmos acabamos por nos afastar da nossa história.

Mas, ao nos afastarmos da nossa história, nos afastamos também de nós mesmos, das partes positivas dela e da possibilidade de ressignificar e elaborar as partes conflituosas que tanto tememos.

Momentos traumáticos, grandes ou pequenos, aparentemente sem significado podem estar interferindo e atrapalhando o desenrolar da nossa vida. Querendo ou não, conscientes disso ou não, algo mal resolvido na nossa história pode interferir muito na nossa forma de viver o presente. A rejeição vivida na infância no ambiente escolar, o abandono de um amor adolescente, a forma que falaram do nosso pai que nunca conhecemos, um acidente trágico quando ainda éramos bebes, a forma como um avô recebeu a gravidez de seus pais, a falência da empresa familiar, a forma como seus pais lidaram com o suicídio de um parente próximo, segredos de família etc. podem estar afetando, mesmo sem você perceber, suas decisões e a forma que você vive, hoje, suas relações pessoais, profissionais e sociais.

Com um apoio adequado, num ambiente protegido e sem julgamentos, próprio do espaço psicoterapêutico, podemos revisitar nossa história, encontrar nossas feridas e dores e curá-las através da aceitação e do acolhimento das nossas emoções. Reelabora-se o evento traumático vivido, encontra-se novos potenciais e/ou forças muitas vezes esquecidas e, assim, caminhamos para transformar aquilo que não estava nos fazendo bem.

Redimensionando o tamanho do nosso bicho papão e o nosso tamanho

Ao revisitarmos nosso passado, não raras vezes, descobrimos sermos mais fortes e capazes do que imaginávamos ser. Muitas vezes descobrimos que o bicho papão que nos assombra é bem menor e mais manso do que imaginávamos que era. Olhar para debaixo da cama, para dentro do armário ou atrás da cortina nos possibilita lidar com nossa sombra, nosso medo… nos possibilita olhar nosso bicho papão e nos libertarmos dele.

É comum jovens e adultos, ao visitar uma casa conhecida na infância, se surpreenderem com o tamanho da mureta, da sala ou do quintal: eles são bem menores do que a imagem registrada em suas mentes. Sabemos, claro, que não foi o quintal que diminuiu, foi a criança que cresceu e que agora vê tudo de uma outra perspectiva. O mesmo, na maioria das vezes, acontece quando revisitamos uma dor vivida na infância: descobrimos que ela, agora que crescemos, é proporcionalmente bem menor (mesmo que ainda grande) do que antes, pois, mais maduros, somos mais capazes de lidar com ela. Com o passar dos anos desenvolvemos habilidades físicas, emocionais, cognitivas e psíquicas para lidar com diversas situações e emoções, nos tornando também mais capazes de enfrentar e ressignificar experiencias e dores antigas.

Por exemplo, aos cinco anos enfrentar um adulto, um abusador sexual ou um pai extremamente crítico e severo, é física e psicologicamente muito mais difícil que o fazer aos 35 anos. Mas, muitas vezes, diante dessa situação aos 35 anos ficamos tomados pela experiencia anterior. Ficamos petrificados, sentindo-nos indefesos e impotentes, sem perceber que agora, adultos, temos muito mais recursos internos para lidar com a situação. Vale lembrar que essa experiencia com um abusador sexual ou com um pai extremamente crítico e severo vividos na infância podem, na vida adulta, serem projetados num parceiro amoroso ou no chefe do trabalho, trazendo grandes danos na forma de nos relacionarmos com eles. Ao encararmos e elaborarmos nossas experiencias traumáticas anteriores, nos libertamos delas e, assim, lidamos melhor com as experiencias, negativas e positivas, presentes e futuras que encontramos pela vida.

E há diversos outros exemplos, muitos em que o bicho papão é nós mesmos, são sentimentos ou ações nossas que julgamos e que escondemos por não conseguimos aceitar, por não conseguirmos ver nosso “lado feio”. Situações de luto, perdas, sensações de culpa etc… nossa história é repleta de experiencias difíceis de serem vividas e, quando se tornam nós, clamam, de alguma forma, para que olhemos para elas, a fim de desfazermos esses nós, para que a vida volte a fluir livremente. E esse “clamor” pode vir através de sintomas físicos (uma coluna que trava, gastrite, asma), comportamentais (ataques de raiva), emocionais (depressão) ou relacionais (desencontros amorosos) – é preciso ouvir esse clamor!!

* Esse texto faz parte de uma trilogia:

– Parte I: O que é saúde, doença e cura?

– Parte II: Enfrentando o nosso bicho papão

– Parte III: Aprendendo a sentir, a mover e a relacionar-se

* Sugestão de filmes sobre o assunto:

– “Sete Minutos Depois Da Meia Noite” (Netflix)

– “Divertidamente”

TRILOGIA – O CURADOR INTERNO E O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO PARTE I: O QUE É SAÚDE, DOENÇA E CURA?

Como o psicólogo auxilia o indivíduo a ter uma vida saudável?

Primeiro é importante deixar claro que o psicólogo não cura, ele auxilia o indivíduo a acessar o seu curador interno. E isso acontece através do autoconhecimento.

“O doente procura um médico ou doutor externo, mas o fator intrapsíquico, ou ‘fator curador’, ou ainda o ‘médico interior’ é também mobilizado. Mesmo o médico externo sendo muito competente, as feridas e doenças não poderão ser curadas se não houver a ação do ‘médico interior’” (Groesbeck).

O que é saúde, doença e cura?

Apresento aqui minha visão como psicoterapeuta, ancorada na psicologia analítica de Jung e na saúde integrativa.

Entendendo o indivíduo como um todo que inclui corpo, mente, psique e alma/espirito; e saúde como a capacidade do indivíduo de se auto cuidar; pode-se inferir que autoconhecimento, auto responsabilidade, qualidade de vida, resiliência e conexão com o espiritual são pontos importantes para promoção da saúde integral do indivíduo. Ressalta-se que “espiritual/espiritualidade” é entendida aqui como aquilo que fala do significado e do proposito de vida para cada um, algo individual que pode ou não incluir a crença de um deus/deuses. Pode ser o trabalho, a família, conhecer novas culturas, pintar, seguir os valores e ensinamentos de sua religião etc. Quando a vida tem um proposito, um sentido, o indivíduo busca cuidar de si.

Para Jung, o indivíduo saudável é aquele que está em busca do desenvolvimento, do realizar-se, integrando-se ao todo, transmutando e transcendendo. Quando não há movimento, quando a energia não flui, temos um indivíduo doente. E é fundamental que o indivíduo se engaje no seu próprio processo de cura, por isso o curador (psicoterapeuta) deve auxiliar o paciente a encontrar seu “curador interno”.

Ainda segundo Jung, “todos os maiores e mais importantes problemas da vida são de certa forma insolúveis. Eles precisam sê-lo, por expressarem a necessária polaridade inerente em todo o sistema autorregulador. Eles nunca podem ser resolvidos, apenas superados… Essa ‘superação’… em experiências mais aprofundadas percebeu-se que consiste em um novo nível de consciência. Algum interesse superior ou mais amplo surgiu no horizonte da pessoa, e, mediante o alargamento da sua visão, o problema insolúvel perdeu sua urgência… O que, visto de um nível mais baixo, havia levado aos mais terríveis conflitos e a explosões emocionais assustadoras, visto de um nível mais elevado da personalidade, parece uma tempestade em um vale vista do topo de uma montanha. Isso não quer dizer que a tempestade foi privada de sua realidade, mas em vez de estar dentro, o sujeito agora se encontra acima dela”.

Marion Woodman, psicoterapeuta junguiana mundialmente conhecida, diz que além de buscar causas e explicações psicopatológicas às nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, amar a nossa “alma”, amar o nosso eu mais profundo, amarmo-nos assim como somos. Ela fala que é a partir do desenvolvimento do “amor próprio” que poderemos reconhecer que nossas feridas e sofrimentos nasceram de uma falta de amor. Nossas feridas e sofrimentos e nosso amor próprio acabam por nos revelar que a “alma” se orienta para um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade, nosso eu profundo, para a realização de nossa totalidade. A nossa própria vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa unidade primeira.

A visão sistêmica encara a saúde em termos de processo continuo, com atividades e mudanças continuas, refletindo a resposta criativa do organismo aos desafios ambientais. Dentro da concepção integrativa e sistêmica de saúde, o autoconhecimento é ponto essencial para o desenvolvimento de uma vida saudável. Ressaltando que a relação com os outros, nesta concepção, são parte intrínsecas do autoconhecimento.

Quando há uma dor no corpo, as suas vibrações são sentidas na “alma” e se a “alma” está adoecida então as vibrações chegarão ao nível do corpo. A pessoa doente é alguém que desenvolveu bloqueios entre ela mesma e sua energia vital. É função do curador, do psicoterapeuta, por exemplo, auxiliar o indivíduo a se reconectar com sua energia vital e a integrá-la de forma consciente no seu dia-a-dia. O curador não pode fazer absolutamente nada além de auxiliar.

Fontes, coordenadora do Curso de Cuidados Integrativos da UNIFESP, também compartilha dessa ideia ao falar sobre o paradigma “Salutogênico” (foco na habilidade e não na deficiência) como aquele que utiliza-se operacionalmente do “Senso de Coerência” (habilidades de mobilizar recursos da força, resistência, potência e capacidade de enfrentamento mediante situações adversas inerentes à vida) e que comunga a ideia de que ninguém cura, de que todos podem ser apenas facilitadores, ou, infelizmente, inibidores do processo de cura, e de que somente o individuo tem o poder de curar a si mesmo.

O autoconhecimento é fundamental no processo de cura, pois traz ao indivíduo a consciência de como ele está, quais seus recursos e suas fraquezas, o que lhe faz mal e o que lhe faz bem… para que, assim, ele possa escolher seu caminho e curar-se.

“Tenho uma razoavel certeza de que podemos mostrar a uma pessoa o que existe, mas não podemos lhe dar aquilo que ela deve fazer […]. Não haveria dificuldade na vida se a pessoa sempre soubesse de antemão como fazer uma coisa. A vida é uma especie de arte, e não uma estrada reta ou um produto pronto que se pode encontrar em cada esquina […] Ninguém pode vivê-la por você ou em seu lugar. Sua vida é aquilo que você tenta viver. Se eu precisasse fazer você passar por alguma coisa, seria a minha vida e não a sua” (Jung).

Na individuação busca-se o todo, busca-se integrar as várias partes de si. E esse desenvolvimento sempre começa com o confronto moral do indivíduo/ego com as características que ele não aceita sobre si mesmo, características que o indivíduo não quer que chegue a sua consciência (sua sombra).

Vale ressaltar que enquanto o indivíduo não estiver pronto, não se deve mexer: não se deve cortar o casulo da borboleta porque o esforço para rompê-lo é importante para estimular a transformação – se cortarmos o casulo de uma borboleta, ela não desenvolve a capacidade de voar! A pressa é inimiga da “alma”, e a perfeição é anseio do ego.

Desenvolver a consciência leva à individuação, a viver a vida em sua plenitude, entendendo que estar consciente de algo é a somatória da emoção, da vivência e do conhecimento intelectual, e não apenas deste último. O terapeuta deve, então, auxiliar o indivíduo a encontrar seu caminho a partir do autoconhecimento, caminho este que o levará em direção à completude, não à perfeição.

Fechando o texto, com as palavras do Jung, podemos dizer que o que dá sentido à vida é saber que você viveu sua própria vida, e não necessariamente a felicidade. Para ele, as dores com significado doem menos, pois sabemos que faz parte do nosso trajeto. A transformação do indivíduo está na passagem do problema, no suportar a tensão (dos opostos), e não na resolução do problema. E o terapeuta deve apontar para onde a energia pode ir (cura) e não apenas para onde a energia está superconcentrada (doença, complexos). Deve-se apontar o caminho, não apenas o congestionamento.

* Esse texto faz parte de uma trilogia:

– Parte I: O que é saúde, doença e cura?

– Parte II: Enfrentando o nosso bicho papão

– Parte III: Aprendendo a sentir, a mover e a relacionar-se

* Sugestão de filmes sobre o assunto:

– “Sete Minutos Depois Da Meia Noite” (Netflix)

– “Divertidamente”